Minha dor indignada
experiência mais dramática de minha vida. Fui obrigado a conviver com a dor e a
revolta pelo bárbaro assassinato de meu neto, Leonardo Batista Fernandes,
juntamente com um amigo, Breno Silvestrini. Esse crime abalou não somente
nossas famílias, mas causou perplexidade entre a população de Campo Grande e de
todo o País. Durante vários dias perdemos o eixo, ficamos incrédulos e
psicologicamente abalados. Muitos de nós indagamos em silêncio, remoendo nossa
perplexidade, perguntando-nos qual o limite da bestialidade humana, que
sociedade é esta que gera monstros que ceifam vidas de jovens por motivos
banais, deixando um rastro de tristeza, trauma e desespero irreparáveis para
todo o sempre entre aqueles que permanecem seguindo pela senda da existência.
Acredito que a violência em
nosso País não pode ser mais encarada como algo etéreo que pertence apenas ao
noticiário do dia a dia. A violência é concreta, brutal, crescente, atinge a
todos, em todos os lugares, não importando classe social, raça, religião,
profissão ou idade. E o mais grave do que isso é a sua banalização, fazendo-nos
crer que se trata de um problema sem solução, impossível mesmo de ser
enfrentado, pois não há como sonhar com uma cultura de paz num ambiente em que
os valores morais foram solapados, os traficantes e criminosos assumiram o
controle de várias esferas do Estado e os governos se mostram impotentes para inverter
um processo nefasto que se tornou socialmente crônico.
podemos mais ficar insensíveis ou indiferentes. Temos que reagir, apesar do
sentimento dolorido que muitas vezes nos torna impotentes, destruindo inclusive
nossas perspectivas de futuro. Tenho lutado nos últimos dias para que esse
drama pessoal e familiar ultrapasse os limites do luto íntimo e se una ao coro
dos cidadãos indignados desse País.
Temos que gritar em alto e bom
som que o Governo brasileiro está sendo derrotado e humilhado na luta contra a
violência urbana, falhando institucionalmente em defender direitos inalienáveis
das pessoas para preservar o princípio do direito à vida, à liberdade, à
segurança e à propriedade.
Queremos abrir este debate com
todos os homens e mulheres de bem para que as feridas que nos marcam
profundamente não sejam simplesmente cicatrizadas, caindo no esquecimento. Não
queremos somente a punição exemplar dos criminosos. Queremos que a nossa
indignação se capilarize pelo tecido social e provoque reações e soluções
institucionais.
cognominamos “Pedido de socorro de uma sociedade acuada pela violência”,
visa discutir amplamente o tráfico de drogas que não tem encontrado resistência
correspondente à sua audácia e crueldade, especialmente diante da inércia
governamental, cujos representantes tem feito vistas grossas ante a imoralidade
criminosa do Governo da Bolívia que, além de fazer exigências descabidas em
prejuízo do interesse nacional, vem “legalizando” os automóveis que aqui são
roubados e logo trocados por cocaína e outras drogas.
Na origem de muitos
assassinatos – entre os quais o de Leonardo e de Breno – subsiste esta lógica
perversa, que no fundo parece fazer parte de uma política de conluio entre
governos que se afinam ideologicamente e que, por isso, transigem e permitem a
criminalidade desenfreada. O Brasil precisa agir ante os tribunais
internacionais visando estancar essa sangria de bens e de sangue de
brasileiros, vitimas dessa condenável ação criminosa. O Brasil precisa estar
mais presente nas fronteiras, para a defesa não só do nosso território, mas
para o combate ao tráfico de drogas, o contrabando e o descaminho.
consequências práticas. Nossa revolta deve ser mitigada com a instituição de
medidas concretas surgidas do clamor popular contra a violência. O conceito de
cidadania plena deve ser aplicado para impedir o crescimento do tráfico de
drogas e da consequente criminalidade que vem ocorrendo na região de fronteira.
Nossa vulnerabilidade é explícita. Nosso medo é crescente. Queremos mais ações
concretas e menos promessas. Só assim poderemos construir um Brasil melhor para
nossos filhos e netos. Ao contrário, teremos que aceitar que a barbárie e a
impunidade são invencíveis. E assim nossa tristeza e revolta não cessarão
jamais.
(Juarez Marques Batista, advogado
e ex-secretário de justiça)