– ALEGORIA DO PATRIARCA JACÓ
Sagradas, de todas as tradições, revelam verdades eternas, atemporais, tais
como as leis do ser, as experiências místicas interiores e a evolução dos
mundos e seres. O mito, os símbolos e as histórias são panos de fundo para
mostrar, aos que têm olhos e condições evolutivas de ver além da “letra morta”,
operações do Altíssimo na natureza, universos e seres. Mostram as operações e
experiências místicas e esotéricas do gênero humano em geral, o despertar
gradual da consciência humana e as grandes iniciações do homem e da humanidade.
testamento, em questão neste artigo, trata com riqueza simbólica e mitológica
diversas experiências que o homem, os homens, as nações, o planeta e os
universos passaram, passam e passarão no que se refere à evolução.
bíblicas se refere ao Patriarca Jacó. Na longa vida de Jacó, a Bíblia narra a
lenta e penosa transformação de uma pessoa desonesta e egoísta num homem
sagrado de Deus, quando Jacó se torna Israel. A história ilustra, na verdade,
os três níveis da humanidade: Esaú representa o nível físico, instintivo e
emocional, Jacó e Labão o nível mental e Israel o nível espiritual. Do ponto de
vista esotérico, esses nomes representam estágios no caminho da iniciação
espiritual. (conf. Baughman)
filhos de Isaac e Rebeca, não deram no início da vida nenhuma indicação de
estarem à altura da herança que haviam recebido. A diferença entre esses gêmeos
era evidente desde o nascimento, quando Jacó, “o que suplanta”, nasceu
segurando o calcanhar de Esaú, o “ruivo”. (conf. Fillmore) O Criador havia
explicado a Rebeca que duas nações estavam em seu ventre, e que o mais velho
iria servir ao mais novo. Esaú iria tornar-se pai dos Edomitas, um povo que
habitaria o deserto ao sul do Mar Morto, em geral subserviente aos descendentes
de Israel (Jacó), na parte norte.
Jacó trapaceou Esaú, tirando-lhe seu direito de primogênito e, mais tarde, a
bênção paterna, é descrita nesta famosa história do Velho Testamento. Como nas
histórias anteriores (Abel e Set suplantaram Caim; Sem suplantou Caim e Jafé;
Abraão tomou a frente com a morte do irmão Harã; Issac era o legítimo herdeiro,
em vez de Ismael), eis aqui uma história em que o “fraudulento” e “mentiroso”
Jacó rouba a herança de Esaú. Parece ser uma lei da eugenia espiritual que
aqueles nascidos mais tarde sejam mais evoluídos e, portanto, mais qualificados
para promover a evolução do seu povo.
e Jacó tem certas semelhanças com a história do “filho pródigo” das Escrituras
Cristãs. Ou seja, o prazer proporcionado pela vida sensorial dura até que o
vazio e a falta de significado dessas experiências forcem a alma a dar as
costas para o que é material e voltar-se para o espiritual. Esaú é um exemplo
de pessoa que se concentra principalmente no plano físico da existência e que,
sendo uma pessoa cuja mente está voltada para as coisas materiais, teria de
servir a Jacó, uma pessoa mais voltada para as coisas espirituais, até evoluir
para um nível mais espiritualizado. O corpo e as emoções não devem acaso servir
à mente e à alma? (conf. Heline)
acontecimentos na vida de Jacó representam aventuras na ascensão da
consciência, passos ilustrativos da iniciação ao longo do caminho espiritual. A
primeira experiência aconteceu quando Jacó estava correndo rumo ao norte,
aparentemente para procurar uma esposa em Harã mas, na realidade, fugindo da
ira assassina do irmão Esaú. Cheio de medo e de culpa com a enormidade dos seus
pecados e aflito devido ao exílio forçado, Jacó pegou no sono e teve a sua
famosa visão de uma “Escada” que conduzia ao céu, com anjos subindo e descendo.
Estava assustado, mas sabia que o Senhor o estava guiando e zelando. Jacó
despejou óleo em seu travesseiro de pedra e consagrou-o a Deus, prometendo-Lhe
um décimo de tudo o que ganhasse.
fugindo de Berseba, um lugar de consagração, para as montanhas de Harã, um
lugar de consciência elevada. No simbolismo das Escrituras Sagradas, monte e
montanha sempre simbolizam uma elevação de consciência. Seu sono significava
que os sentidos exteriores estavam amortecidos; seu travesseiro de pedra tem
paralelo com a sabedoria da “pedra filosofal” dos alquimistas. Os anjos subindo
e descendo a escada representam os níveis da consciência, de Deus até a
humanidade.
vista cósmico, a escada revela todo o plano de evolução que o Grande Arquiteto
(o Deus de nossos corações) projetou. As almas “descem” do céu para a
materialidade e, então, “sobem” novamente. A “Terra Prometida” a Jacó
significa um corpo regenerado e purificado. O ato de despejar óleo sobre a
pedra indica a sabedoria e compreensão obtidas com essa visão, um paralelo com
o “desbastar da pedra bruta”, ou com a “reforma íntima”.
viagem para o leste, Jacó encontrou três rebanhos de ovelhas deitados ao lado
de um poço. Os rebanhos não podiam beber água, pois havia uma grande pedra na
boca do poço. O “leste”, na filosofia esotérica, é associado à fonte de luz.
(conf. Heline) A tarefa de Jacó era remover a pedra da ignorância, do
preconceito e da superstição, tirando-a do poço da verdade viva, para que ele
pudesse beber das águas da vida. Aqui ele encontrou sua prima Raquel, que viera
para dar água às ovelhas do pai. Raquel representa a alma, a divindade
feminina, alimentando outras almas (rebanhos de ovelhas). A busca do ser humano
pela alma é ilustrada pelos 14 anos de luta de Jacó para tomar Raquel por
esposa. Somente quando coordenarmos nossa personalidade (é uma luta constante)
poderemos ouvir a alma e beber das suas águas (sabedoria).
Labão, em Harã, Jacó encontrou alguém à sua altura em matéria de astúcia. Uma
interpretação literal do Gênesis indicaria que os dois aplicaram truques
desleais um ao outro durante 21 anos. Jacó certamente foi o perdedor nas
disputas pelas noivas Lia e Raquel, mas levou a melhor sobre Labão na disputa
pela riqueza representada pelos rebanhos de ovelhas. O nome Labão significa
“branco” ou “brilhante” (conf. Heline), indicando que ele era mestre espiritual
de Jacó. Jacó levou sete anos para receber a mão de Lia, a irmã mais velha,
menos favorecida e menos evoluída. Os nossos primeiros anos no caminho
espiritual são longos, penosos e difíceis. Foram necessários mais sete anos de
trabalho duro para ganhar a qualidade de alma personificada por Raquel, a irmã
mais nova. (conf. Fillmore) A maturidade espiritual não vem da noite para o
dia, exige muita reforma íntima e conhecimento de si mesmo.
filha de Jacó com Lia e com sua serva (Bala) e também com a serva de Raquel
(Zelfa) representam os atributos da personalidade duramente adquiridos. Estas
eram as qualidades a serem conquistadas antes que a alma (casamento com Raquel)
pudesse frutificar. (conf. Heline) Somente depois que Jacó conquistou uma
personalidade plenamente integrada (psicossíntese) é que Raquel finalmente deu
à luz o filho José, “aquele que tira a luz da escuridão”. Depois que os níveis
espirituais são alcançados, eles precisam ser expressos na vida cotidiana. “A
fé sem obras é morta.” Jacó, então, tinha trabalhado para Labão durante 21
anos. Era chegado o momento de retornar à sua própria terra levando a luz.
acertos de contas com Labão, todos de significado espiritual, Jacó, suas
esposas, filhos e grandes rebanhos foram para Canaã. Entretanto, ele soube que
Esaú, com 400 homens, estava vindo ao seu encontro. Jacó ficou assustado e
rezou a Deus pedindo ajuda. Esta história nos diz que Jacó ainda tinha algumas
forças rebeldes na sua natureza, as quais ele tentou expiar mandando presentes
para Esaú.
enquanto dormia, Jacó teve uma nova visão, na qual lutava a noite toda com
alguém até que, finalmente, descobriu que não somente não conseguia dominá-lo,
como também descobriu o caráter sobrenatural do seu adversário, um anjo de
Deus. Após essa descoberta passou a exigir-lhe uma bênção. O adversário, visto
como um anjo, deslocou, então, a articulação da coxa de Jacó, fazendo com que a
luta parasse. Isto indica sua luta interior com as sombrias forças interiores,
com aquelas lições de vida que ainda estavam por ser aprendidas. Ao vencer seu
desesperado desafio, ele teve uma visão interior que descreveu como “ver a face
de Deus”. Já ao romper do dia, significando um novo nascimento e um novo nome,
Jacó ganhou o nome de Israel por ter sido “forte contra Deus e contra os homens.”
Tendo visto e vencido o anjo do Senhor, Jacó estava espiritualmente apto para
enfrentar qualquer circunstância adversa que a vida lhe impusesse e para agir
com amor e de forma correta.
foi suficientemente esperto em proceder com cautela no seu encontro com Esaú,
que poderia ainda estar ressentido. Aqui a Bíblia oferece uma linda descrição
de um rito de iniciação em que o mal é transmutado em bem. Nesse encontro, Jacó
“viu Deus” em Esaú e abraçou-o com ternura e compaixão. Esaú também tinha
crescido espiritualmente e deu a boas-vindas a Jacó sem nenhum resquício de
ressentimento pelos antigos maus-tratos.
seguintes, Jacó teve outras oportunidades para pôr à prova e aperfeiçoar suas
qualidades espirituais, até que, finalmente, sua comunhão com os mundos
superiores foi consumada. Isto descreve aquilo que conhecemos hoje como a
“continuidade de consciência”. Agora, a fusão do espírito com a alma, ou seja,
de Jacó com Raquel, estava concluída. Sua união foi abençoada com o nascimento do
décimo segundo e último filho, Benjamim. Nos 12 filhos de Jacó vemos as
características do Ser divino “dentro” dos seres humanos.
conversão espiritual vivida por Jacó, que, assim, ganhou o nome de Israel, a
nação de Israel nasceu espiritualmente. (conf. Bock) A família de Jacó estava
mudando de Harã, na Babilônia, para o local conhecido hoje como Palestina, a
terra natal de seu pai Issac, que herdara de Abraão. Com o nascimento do décimo
segundo filho, Benjamim, a família tornou-se, finalmente, uma nação com sólidas
raízes. Graças à purificação de sua vida religiosa e à força de caráter que os
capacitou a responder aos desafios da vida com crescimento espiritual, eles
desenvolveram as faculdades mentais e o senso de responsabilidade pessoal, que
chegaram até eles juntamente com um influxo de energia da alma.
patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó) seriam seguidos por um quarto grande líder,
José. Ele foi o primogênito de Raquel e Jacó, um homem predestinado e o
salvador da raça hebraica em épocas difíceis que estavam por vir. Mas isto é
tema para outro artigo.
Como me referi no
início deste artigo, nunca podemos deixar de entender o fato de que os
“personagens” bíblicos, com raras excessões, nunca existiram; são somente
símbolos e arquétipos, comum a todas as tradições do mundo. A essência e a
mensagem são as mesmas, o que muda é o cenário, a representação. São
personificações de atitudes e da grande caminhada dos mundos, povos e de cada
ser humano individualmente, caminhando das trevas à luz, do profano ao
iniciado.
Que isto possa nos
inspirar na nossa senda evolutiva, fazendo-nos compreender que a caminhada é
longa e árdua; muitas vidas, muita ação e reação, encontros e desencontros e
muita reforma interior são as exigências para sermos “fortes até perante Deus”,
e retornarmos ao “paraíso perdido”, ou seja, a mundos superiores de muita luz.
Edgar Machado Junior – Issarrar Ben Kanaan)