A Mumificação Egípcia Faraó Ramsés II
Os antigos egípcios, motivados por questões religiosas, conservavam o corpo de seus mortos através do processo que conhecemos sob o nome de mumificação. Segundo o mito egípcio relacionado à organização do Egito, o deus Osíris, assassinado por seu irmão Seth, teve seu corpo embalsamado, e com isso foi concedido a ele a vida eterna. Os deuses teriam criado um “mundo” paralelo ao Egito, para que a divindade o governasse, sendo este uma cópia das terras faraônicas. Assim, buscando que ocorresse o mesmo com eles, os egípcios elaboraram um procedimento artificial para a preservação dos corpos; e desse modo não viam a morte como um fim, mas como o início de uma nova existência. Motivados por essa crença, os egípcios acreditavam que o corpo era constituído de diversas partes: O coração (ib), o nome (ren), a sombra (shut), a força vital (ká), a personalidade (bá) e o princípio da imortalidade (akh). Contudo, para os egípcios o princípio da imortalidade (akh), resultado da união entre ká e bá, só continuaria existindo tendo o corpo físico (khet) sido conservado através da mumificação.
Desse modo, após a morte, buscando garantir sua existência no além-túmulo, realizava-se a mumificação, ou seja, a preservação do corpo físico. Este processo ocorria em uma construção próxima ao rio Nilo, conhecida como “Casa dos Mortos”. Lá ficavam os sacerdotes responsáveis por todas as etapas do processo da mumificação, sendo que este era visto como um rito religioso. O ritual variava de acordo com a estratificação social de cada egípcio. No início da história dessa civilização somente aqueles considerados mais importantes, e que tinham meios para pagar, poderiam ter uma mumificação de qualidade. Porém, com o passar do tempo, notou-se uma popularização desse ritual funerário.
Esse processo, no período da 21ª dinastia, chegava a durar cerca de 70 dias, envolvendo dois procedimentos básicos: a extração das vísceras e a desidratação dos corpos. Assim, após a purificação do corpo ocorria a evisceração, na qual os órgãos internos eram retirados, desidratados, enfaixados separadamente e guardados em vasos chamados canópicos. A parte interna do abdômen era preenchida, geralmente com tecidos ou ervas aromáticas. Somente o coração (ib), por ser considerado a sede da consciência, deveria permanecer no corpo do falecido. O cérebro era extraído pelas narinas com auxilio de um instrumento cirúrgico.A segunda fase da mumificação compreendia na desidratação do corpo com um composto de sódio conhecido por natrão (produto encontrado no Egito, formado pela seguinte composição química: bicabornato de sódio, sulfato de sódio, carbonato de sódio e cloreto de sódio). O morto ficava sob o natrão por aproximadamente 40 dias, restando no final desse processo ossos, carne e pele desidratados. O enfaixamento do corpo era iniciado após ser ungido por óleos aromáticos. Era envolto por até 20 camadas de linho, entre as quais eram depositados amuletos ou jóias de proteção. Geralmente, o morto ainda recebia uma máscara mortuária, que poderia ser de ouro, prata ou cartonagem (mistura de gesso e papiro), sendo este tipo a mais comum. A múmia era guardada em ataúdes e sarcófagos com inscrições religiosas que garantiriam a sua proteção na eternidade. Após todos esses preparativos, o corpo físico era levado para a tumba, onde deveria permanecer em segurança.
Na tumba, os sacerdotes finalizavam o ritual de mumificação com uma cerimônia conhecida como “Abertura dos Olhos e da Boca”, para que o ahk do falecido pudesse ver e falar em sua jornada rumo à vida além-túmulo. Descrições do Livro dos Mortos revelam que os antigos egípcios acreditavam que havia perigos em que o akh teria que passar em sua caminhada para a eternidade, além do Julgamento no Tribunal de Osíris. Vencidas essas etapas, estava garantida a existência e o descanso eterno nas terras prósperas do deus Osíris.