O Mistério dos Rosacruzes
Sob a direção do Pai Christian, que era o décimo-terceiro e o Supremo da Ordem, principiarem a construir um Templo, e uma vez concluída essa obra, os 12 Irmãos que já estavam muito bem instruídos, resolveram separar-se, permanecendo apenas cinco com o Pai Christian, no Templo, e os outros sete peregrinaram pelo mundo. No fim de cada ano, deviam estar de volta ao Templo, e caso houvesse qualquer impedimento neste sentido, tinham de escrever, apresentando as razões.
Essa Organização assim constituída foi regida por um Código de Leis que exigia de seus membros completa subordinação à Ética. Estes sete, dos 12 Irmãos, deveriam viver como homens entre os homens, e assim se apresentarem, não se distinguido jamais nem sequer por um traje diferente do dos habitantes do mundo exterior. Trabalhavam não só em seus corpos invisíveis, mas também com os outros, conforme a ocasião o exigisse. Jamais lhes fora outorgado o direito de influenciar a quem que fosse contra a sua vontade, deixando-os sempre agir por força de seus próprios desejos. Mesmo assim, competia-lhes estimular as suas benéficas inclinações.
Quanto aos cinco irmãos que permaneceram com o Pai Christian, estes jamais se afastaram do Templo do Espírito Santo e passaram a executar a obra no mundo invisível.
O décimo-terceiro Membro, o Superior e Fundador da Ordem Rosacruz, é invisível ao mundo exterior, sendo o intermediário do mais alto Conselho Central que é composto pelos Hierofantes dos Mistérios Mais Elevados. A Sua presença é sentida, porém nunca vista, e ao entrar no Templo, assinala o início da Cerimónia. As letras C.R.C. constituíam-se na palavra Chave e Título, e a Fraternidade devia permanecer cem anos em segredo.
Em idade bastante avançada, Pai Christian Rosenkreuz abandonou o seu corpo físico, que fora sepultado pelo cinco Irmãos que haviam permanecido com ele. Para os outros, o local do sepultamento tornara-se secreto, continuando a Sociedade a ficar velada para o mundo exterior. A tradição entre eles consistia em que o túmulo do Pai Rosenkreuz seria descoberto 120 anos depois e que a Fraternidade não seria mais uma Organização Secreta. Por essa razão, os Fratres deram início a uma transformação no Templo, colocando a placa comemorativa, contendo os nomes dos congregados, em um lugar mais adequado.
A placa comemorativa era de latão, tendo sido colocada na parede com um prego que passava pelo seu centro; e tão fortemente estava fixada, que na sua retirada uma parte do reboco caíra e, em seguida, uma porta secreta ficou à vista. Depois de ter sido retirado completamente o reboco que encobria a porta, ficou a descoberto a seguinte inscrição, em letras grandes: POST CXX ANNOS PATERO (depois de 120 anos eu serei aberta). Depois de haver esperado a aurora do Sol nascente do dia seguinte, recomeçaram de novo com as suas pesquisas. Ao abrirem a pesada porta, descobriram um abóbada septagonal, tendo cada um dos sete lados, 5 pés de largura e 8 pés de altura, e neles pintados conhecidos símbolos. No teto via-se um Sol artificial, cuja luz, era tão forte que chegava quase a ofuscar os olhos. Foi com a maior surpresa que, em vez de um túmulo, se encontrou no meio do recinto um altar redondo, com uma inscrição onde se dizia ter sido edificado por Christian Rosekreuz como Símbolo do Universo. Muitas outras inscrições existiam, tais como: «JESUS MIHI OMNIS, LEGISJUGUM, LIBERTAS EVANGELII» (Jesus todo meu, o rigor da Lei, a liberdade do Evangelho), o que dá perfeito testemunho do carácter Crístico do Construtor.
Em cada um dos sete lados estava uma porta que conduzia a uma câmara na qual foram encontradas coisas raras e de grande valor, tais como a biografia do fundador; o vocabulário de Paracelso; os segredos da Ordem; sinos, espelhos, lâmpadas e vários outros objetos estranhos.
Ao removerem o Altar e a placa de latão, ficaram surpreendidos ao depararem com o corpo de Christian Rosenkreuz, cujo estado de conservação era perfeito.
Essa é a narração do caso, tal como foi descrito por J. V. Andreae, em sua famosa obra sobre os antigos Rosacruzes, intitulada «A Fama Fraternitatis».
Muitos cientistas supõem ser uma poesia a história de Andreae; entretanto, outros aplaudiram a teoria de Nicolai, que dizia ser Andreae, naquele tempo em que surgira o seu livro, um jovem cheio de entusiasmo e de ambições. Conhecia muito bem as falhas de teologia e das ciência, e esforçava-se por reformá-las; e para poder realizar o seu intento, procurou a fusão de quantos fossem admiradores da virtude, assim como ele o foi, para que pudessem unir-se numa única Organização.
Outros afirmam haver Andreae escrito essas coisas tão somente para que o Rosacrucianismo pudesse crescer e desenvolver-se, pois tinha que demonstrar, em separado o seu conceito sobre a moral da religião. Seja como for, o importante é que essa suposta poesia conquistou terreno através dos séculos e foi aceita como verossímil; e tanto isto é verdade que a Invisível Organização dos Rosacruzes está sendo hoje ansiosamente procurada e com ela se procura compartilhar e levar avante os seus nobres e dignificantes ideais.
Essa obra de Andreae alcançou na Alemanha um êxito sensacional, pelo que, de todos os rincões chegavam cartas dos que se sentiam habilitados nas Ciências de Kabala e da Alquimia, para serem provados em suas capacidades. Outros, atrevidamente, afirmavam e de maneira fraudulenta, pertenceram à Ordem Rosacruz iludindo aqueles que, de boa fé, neles acreditaram. Muitos comentários houve, segundo os quais esses charlatães extorquiam dinheiro, tendo sido, finalmente, castigados severamente pelos Magistrados de Namburg, Augsburgo e de outros cidades.