Este grande Iniciado nasceu na Boêmia província da Checoslováquia, no dia 24 de dezembro de 1872, situada entre a Áustria e a Alemanha.
Foi nas montanhas da Boêmia que nasceu na “Véspera de Natal” esse gênero das línguas e do Esperanto. Seu primeiro livro foi editado em 1890, ainda na Boêmia, em Esperanto, quando tinha apenas 18 anos de idade e, posteriormente, publicado em quarenta idiomas diferentes.
Lorenz, no Brasil, foi morar em Dom Feliciano, na época, distrito de Encruzilhada do Sul, Estado do Rio Grande do Sul.
Publicou várias obras como “Raios de Luz Espiritual”, “Elementos de Quiromância”, “Lições Práticas de Ocultismo Utilitário”, “A Sorte Revelada pelo Horóscopo Cabalístico”, “O Filho de Zanoni”, “A Cabala” e muitas outras obras.
Foi um grande Astrólogo. Por mais de 20 anos redigiu o “Almanaque do Pensamento”, editado até hoje pela Editora Pensamento.
Era colaborador espontâneo do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Através de suas obras foi um evangelizador do Ocidente. Falava 72 línguas com seus respectivos dialetos.
Desencarnou no dia 24 de maio de 1957, às 13 horas, em Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul.
Era doutor em Cabala da Ordem Cabalística da Rosa-Cruz. Aconteceram muitos fatos na vida deste Iniciado de primeira grandeza. Como exemplo de tais fatos, vamos transcrever a matéria publicada na Revista Maçônica “União”, de outubro de 1965:
“Corria o ano de 1928 e governava o Estado do Rio Grande do Sul o Dr. Getúlio Vargas. Certa manhã, recebi um amável convite para comparecer às 14 horas na Biblioteca Pública, pois que lá estava sendo feita uma triagem de todo o Professorado Estadual do Curso Primário, por ordem de S. Ex.a o Dr. Getúlio Vargas, então vivamente interessado na reforma e aprimoramento do ensino. Além disso, salientou que entre os que seriam examinados estava um homem que era um verdadeiro fenômeno e que ele tinha sincero desejo de que também eu o conhecesse.
Aquiescendo ao convite, compareci à hora aprazada e lá o encontrei. O amigo que me convidara era professor de Contabilidade e mantinha o Curso Rápido Comercial num prédio sito à Praça Parobé.
Ao fundo de um enorme salão estava a Comissão Examinadora, presidida pelo ilustre e saudoso Ir. Dr. Maurício Cardoso. Os demais membros da Comissão eram o que de mais exponencial existia em Porto Alegre naquela época.
A chamada dos examinadores era procedida em ordem alfabética, e naquele dia estavam na letra “F”. Em dado momento ouviu-se chamar: “Francisco Valdomiro Lorenz”. Imediatamente viu-se, encaminhando-se em direção à Mesa, um cidadão aparentando 45 anos, trajado de branco, botinas pretas, lenço de seda ajustado ao pescoço com uma aliança e de chapéu de palhinha na mão. À sua passagem pelo longo corredor, com facilidade se escutaram risinhos de professorinhas muito bem vestidas e pintadas, o que fez com que o Ir. Bahlis (quem me convidou) murmurasse, contrafeito: daqui a pouco vocês mudarão de atitude! Efetivamente, iniciadas as provas, o grande matemático, Dr. Francisco Rodolpho Simch, viu que estava diante de um grande estudioso da matéria, o que o levou a distender-se longamente sobre o tema que lhe estava afeto. Com profunda admiração, constatou que o examinando discorria com indiscutível autoridade sobre os mais complexos aspectos da Matemática, culminando por enredar-se na própria origem dos algarismos – matéria essa muito familiar ao examinando.
Sob grande e justificada expectativa seguiu-se a prova de Português. Respondendo e solucionando todas as perguntas e questões atinentes com segurança e, sobretudo, simplicidade, foi em certa parte solicitado a analisar a palavra “sobrevivência”. Fê-lo, lógica e lexicamente, dentro das normas gramaticais, tendo, ao final, se colocado à disposição para responder sobre algo mais que desejassem a respeito da aludida palavra. Foi a essa altura que teve início um diálogo que ficou indelevelmente gravado na mente de todos os presentes.Vou esforçar-me no sentido de relatá-lo com a máxima fidelidade:
Dr. Maurício Cardoso:
– Pelo que vejo, o Sr. dedica-se ao estudo da etimologia das palavras.
Lorenz:
– Sim, Ex.ª, estudo.
Dr. Maurício Cardoso:
– Além do Latim, grego e árabe, que são as raízes de nosso idioma, aprecia ou estuda também outras línguas vivas?
Lorenz:
– Sim, Ex.ª. De modo especial as línguas chamadas “mortas”.
Dr. Maurício Cardoso:
– O senhor diz “mortas”. Por que não prefere as “vivas”?
Lorenz:
– Porque, salvo erro de minha parte, as “vivas” nada mais são que herdeiras das “mortas”.
Dr. Maurício Cardoso:
– Embora imperfeitamente, dedico-me também ao estudo de alguns idiomas, porém vivos. Agradar-lhe-á dialogarmos rapidamente em francês, que é considerado “idioma universal”?
Lorenz respondeu-lhe em francês, tendo o Dr. Maurício manifestado sua satisfação.
Dr. Maurício Cardoso:
– Mas, o que me diria se tentássemos dialogar noutros idiomas que atualmente são usados pelos povos deste Planeta?
Lorenz:
– Estou às inteiras ordens de V. Ex.ª.
Neste ponto foi que os presentes tiveram a revelação do Grande Homem modestamente vestido e que suscitara os risinhos que tanto mal fizeram ao saudoso Ir. Bahlis.
Como era notório nas altas esferas da intelectualidade brasileira, o Dr. Maurício Cardoso falava corretamente doze idiomas “vivos”. Valendo-se disso, conversou com o Ir. Lorenz em todos eles, e em cada um desses idiomas, com grande diplomacia e humildade, escutava observações de Lorenz, mais ou menos como esta: Ex.ª, a sua pronúncia desta palavra denota que o seu professor era originário ou descendente de algum habitante de tal ou qual cidade da Alemanha, Áustria, Inglaterra, Pérsia, etc. Isso é natural, porquanto esses povos, através de muitos séculos, empenharam-se em muitas guerras, e certas palavras sofreram substâncias alterações, principalmente em sua tônica. E prosseguindo: nas capitais, onde se cultuam as regras gramaticais, a pronúncia é assim (e pronunciava as palavras, citando os motivos).
Empolgado diante daquele verdadeiro repositório de saber, o Dr. Maurício Cardoso arriscou:
– O senhor fala mais alguma língua?
– Sim, algumas.
– Quantas mais?
– Bem, diz Lorenz, eu entendo e escrevo atualmente em cinqüenta e duas. Entretanto, devo confessar que estou lutando para aperfeiçoar-me na pronúncia das que eram faladas pelos Maias, Astecas e Ameríndios.
– Mas, então o Sr. fala o idioma japonês?
– Sim, respondeu Lorenz.
– Tenho um amigo na Diretoria de Higiene, o Dr. Nemoto, japonês de nascimento, que certamente gostará de falar com o senhor. Está de acordo em que lhe peça para vir até aqui para esse fim?
– Com muita honra, Ex.ª. Diante disso, o Dr. Maurício Cardoso providenciou a vinda daquele cavalheiro e enquanto não chegava, providenciou as demais provas de habitação do examinando, que em todas elas se revelava um grande mestre. As todas essas, eram quase 16 horas quando chegou o Dr. Nemoto. Feitas as apresentações, imediatamente iniciaram o diálogo em japonês, e, decorridos poucos instantes, o Dr. Nemoto esclarece aos presentes que realmente seu ilustre interlocutor era mesmo um fenômeno lingüístico, porquanto, com sincera admiração de sua parte, ele descobria que ele, Nemoto, não estava falando o japonês usado em Tóquio, e sim em Yokohama, o que era verdade.
Foi nessa altura que teve lugar um fato que emocionou extraordinariamente aquela felicíssima assistência: o Dr. Maurício bate no tímpano e diz:
– Senhoras e Senhores! Convido a que nos levantemos! Todos de pé, ele deixa a Presidência da Mesa, encaminha-se para o nosso Ir. Lorenz e diz-lhe:
– Mestre, vinde ocupar o lugar que indevidamente eu estava ocupando. Ele vos cabe.
Uma salva de palmas, que durou muito tempo, coroou as palavras do Dr. Maurício Cardoso.
Muito acanhado, extraordinariamente encabulado, Lorenz baixou a cabeça e apenas conseguiu murmurar:
– Oh! Por caridade Doutor, se está concluída a minha prova, permita que eu volte para minha casa em São Feliciano.
– Mas, o senhor não reside em Porto Alegre?
– Não, senhor. Há muitos anos resido no Distrito de São Feliciano, Município de Encruzilhada. Andam dizendo por aí que em breve serão mudados os nomes para Dom Feliciano e Encruzilhada do Sul.
Diante disso, o Dr. Maurício externou em palavras cheias, de emoção e entusiasmo a sua admiração por ele e deferiu seu pedido.
No dia seguinte, nova surpresa estava reservada ao Ir. Lorenz. O Dr. Getúlio Vargas, informado do que ocorrera, mandou chamá-lo ao Palácio, manifestou-lhe também sua grande admiração e convidou-o para trabalhar na Secretaria do Interior e Justiça, no Departamento de Relações Consulares, pois, trabalhando como tradutor, iria prestar relevantes serviços naquele setor.
– Sr. Governador, disse Lorenz. Sensibilizado ao máximo, agradeço a V. Ex.ª tão honroso convite. Entretanto, se vossa extrema bondade permite, imploro que me deixe voltar para minha Escola. O senhor nem pode imaginar o quão feliz me sinto em poder ir diariamente para minha Escola, levando junto comigo um elevado número de meninos!
O saudoso Dr. Getúlio Vargas, embora coerente com a idéia inicial, terminou concordando, e lá se foi o Ir. Lorenz para o convívio de seus amados meninos”.