RESSONÂNCIA
Nos diz o físico Tarso Paulo Rodrigues em artigo na Folha de São Paulo, que “devido ao movimento das moléculas, todos os objetos vibram naturalmente com uma certa freqüência, denominada freqüência natural ou própria. Determinados sistemas físicos -como edifícios, pontes, copos de cristal e vidraças- têm uma ou mais freqüências preferenciais de vibração. Ocorre que, se uma fonte externa fornecer energia periodicamente a esses sistemas com freqüência igual a uma de suas freqüências naturais de vibração, essa energia passa a ser armazenada pelo sistema, que começa a vibrar com amplitudes cada vez maiores. Dizemos, então, que o sistema físico entrou em ressonância”.
O forno micro-ondas é um exemplo claro. O campo eletromagnético das ondas tem freqüência igual à freqüência própria de vibração das moléculas de água contidas no interior dos alimentos. As moléculas absorvem a energia fornecida pelas microondas, aumentam a agitação e aquecem o alimento. Se um copo de cristal for excitado com som intenso de freqüência adequada, ele passa a vibrar cada vez mais intensamente até quebrar. Será essa a explicação para a queda do muro de Jericó ao som das sete trombetas dos sacerdotes e do clamor do povo?
Nós também somos constituídos de vibrações. Aliás, todo o Universo é vibracional. Talvez seja por ter percebido isso é que Freud mudou o conceito de ‘instinto’ – termo que evoca uma característica ancestral remanescente no ser humano – para ‘pulsão’ – conceito que nos remete mais à idéia de impulso, de ‘força’ (no sentido da Física).
Foi o mesmo Freud que descobriu no psiquismo um fenômeno a que denominou contratransferência e que os teóricos da abordagem sistêmica denominaram de ressonância. Este segundo termo a mim parece mais adequado. De qualquer forma, o que nos interessa aqui é o fenômeno. Todos temos certas ‘vibrações’ inconscientizadas durante nosso processo de desenvolvimento que se referem a sentimentos que nós traduzimos como negativos e que permaneceram potencializadas em nós. Por exemplo: certo dia de minha infância eu ajudava todo orgulhoso (ele não sabia disso) meu pai a serrar uma peça de madeira. Eu concentrado em minha tarefa e meu pai pensando em problemas mais sérios, os quais eu nem podia imaginar àquela época. Num dado momento a madeira ‘correu’ e meu pai, literalmente caindo de volta à tarefa, reagindo ao susto deixou escapar: ‘menino, você também não presta prá nada’. Foi apenas uma expressão, mas para mim, envolvido no orgulho de cooperar com meu pai numa tarefa ‘de homem’, foi uma agressão muito profunda. O tempo passou, mas aquela cicatriz (inconsciente) que me lembrava que meu pai – aquela figura que deveria me confirmar em meus esforços – me considerava ‘imprestável’ ficou. E quando pressionada doía e me fazia reagir muito agressivamente (sem saber mesmo o porquê).
Um dia, em nossa Loja, apresento um trabalho. Um Irmão a quem respeito muito (como eu respeitava meu pai), carinhosamente e pretendendo ajudar meu progresso me diz: ‘mano, você poderia ter falado mais alto, assim o pessoal poderia ter entendido melhor seu trabalho’. De repente me assoma uma raiva, fico vermelho, me sobe um calor no rosto e, se não me controlasse, diria para ele que eu não tinha culpa por sua surdez. Ele que fosse se tratar e deixasse de projetar sua incompetência nos outros. Pura ressonância. O feedback carinhoso que ele me deu vibrou na mesma freqüência daquela cicatriz escondida lá em meu íntimo. Por que? Porque me pareceu (inconscientemente) estar ouvindo novamente meu pai dizendo que sou ‘um imprestável’. A mesma vibração em meus sentimentos. Ressoou em minha cicatriz aumentando a freqüência de sua vibração e fazendo com que o sistema se rompesse. Resultado: desequilíbrio.
Como evitar essas armadilhas de nosso psiquismo? Com as mesmas disciplinas que aprendemos (ou deveríamos ter aprendido) em nosso estágio de Aprendizes: epa! Por que esse sentimento está me incomodando? O que ele quer me dizer sobre mim? Meu Irmão está dizendo que ‘devo falar mais alto’. Por que me parece que ele está dizendo que ‘sou imprestável’?.
Difícil? Sim! Por isso temos uma estrutura ritualística tão formalmente rígida: para nos disciplinar. Disciplinarmo-nos é aprendermos a nos conter (não ‘vazar’ para fora); é aprendermos a nos observar (não agirmos ‘cegamente’); é aprendermos a ouvir (o ‘silêncio’ que se pede ao aprendiz diz respeito mais a si mesmo do que aos outros) o que nosso corpo físico, nossos sentimentos (corpo emocional) e nossa mente (corpo mental) nos dizem. Especialmente quando ‘gritam’. (Francisco Pucci)