Adeus a Sete Quedas
Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta expressa sua inconformidade
com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B. O sentimento ecológico do poeta reverberou em todo o país. Um mês depois, ele Ferraz revela que em 1963 apresentara projeto intitulado “Aproveitamento “Aproveitamento, em vez de imolação”, destaca Drummond. O argumento No final, diz Drummond, os paraguaios não ficaram tão satisfeitos e Sete |
Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram. Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio. Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta.Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato. Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos egípcios e assírios em vão ousaria criar tal monumento. E desfaz-se Faz-se do movimento uma represa, Vinde povos estranhos, vinde irmãos Sete quedas por nós passaram, |
Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002 |
Carlos Drummond de Andrade
In Jornal do Brasil, Caderno B 09/09/1982 © Graña Drummond |