Livro revela rebeldia caipira
de Inezita Barroso e
guerra
guerra
ao “sertanojo”
Daqui a poucos meses, mais precisamente em março, a cantora Inezita Barroso completará
90 anos como uma das defensoras mais fervorosas da música caipira no Brasil. Em
sua biografia recém-lançada, “Inezita Barroso – Rainha da Música
Caipira”, escrita por depoimento ao jornalista Carlos Eduardo Oliveira,
ela ainda mantém a voz discordante contra a modernidade no sertanejo e chama a
safra atual de “sertanojo”. “A verdade é que esse pseudosertanejo atual é música
inventada pela indústria, sem raiz, paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o
mesmo ritmo! Um modismo”, desabafa no livro.
90 anos como uma das defensoras mais fervorosas da música caipira no Brasil. Em
sua biografia recém-lançada, “Inezita Barroso – Rainha da Música
Caipira”, escrita por depoimento ao jornalista Carlos Eduardo Oliveira,
ela ainda mantém a voz discordante contra a modernidade no sertanejo e chama a
safra atual de “sertanojo”. “A verdade é que esse pseudosertanejo atual é música
inventada pela indústria, sem raiz, paupérrima, sempre a mesma letra, sempre o
mesmo ritmo! Um modismo”, desabafa no livro.
Sua posição não é uma novidade. Inezita foi uma rebelde desde
pequena. No livro, ela conta como decidiu cantar após assistir ao show de
Carmem Miranda e fala da resistência que sofreu dos pais “caretas”.
Moça da sociedade paulistana, a cantora sempre atraiu olhares pelo cabelo
curto, o violão a tiracolo e a disposição em se enfiar nas rodas de viola dos
trabalhadores rurais. “Ela sempre estava nas casinhas dos caboclos das
fazendas dos avós. Ela acompanhava as rodas de improviso, e recolhia –como ela
costuma dizer– músicas como ‘Moda de Pinga‘”,
conta o jornalista.
pequena. No livro, ela conta como decidiu cantar após assistir ao show de
Carmem Miranda e fala da resistência que sofreu dos pais “caretas”.
Moça da sociedade paulistana, a cantora sempre atraiu olhares pelo cabelo
curto, o violão a tiracolo e a disposição em se enfiar nas rodas de viola dos
trabalhadores rurais. “Ela sempre estava nas casinhas dos caboclos das
fazendas dos avós. Ela acompanhava as rodas de improviso, e recolhia –como ela
costuma dizer– músicas como ‘Moda de Pinga‘”,
conta o jornalista.
No programa “Viola Minha Viola”, que se
tornou referência no gênero desde os anos 1980, quando estreou na TV Cultura,
ela dissecou as lendas, o folclore e a poesia dos versos sertanejos, mas
desabafa: às vezes conduziu o programa de maneira intransigente. “Ela
passou por algumas fases do ‘Viola’ em que achavam que não era bom excluir [os
novas duplas sertaneja]. Ela quebrou o pau, ameaçou desistir do programa”,
conta Carlos Eduardo Oliveira. Ela relata na biografia: “Durante uma época, produtores chegaram a
insinuar que fulano e beltrano viriam porque a gravadora estaria patrocinando
–esse era o argumento deles. Eu esbravejei”.
tornou referência no gênero desde os anos 1980, quando estreou na TV Cultura,
ela dissecou as lendas, o folclore e a poesia dos versos sertanejos, mas
desabafa: às vezes conduziu o programa de maneira intransigente. “Ela
passou por algumas fases do ‘Viola’ em que achavam que não era bom excluir [os
novas duplas sertaneja]. Ela quebrou o pau, ameaçou desistir do programa”,
conta Carlos Eduardo Oliveira. Ela relata na biografia: “Durante uma época, produtores chegaram a
insinuar que fulano e beltrano viriam porque a gravadora estaria patrocinando
–esse era o argumento deles. Eu esbravejei”.
A rainha, no entanto, faz suas
ressalvas. O cantor Daniel sempre tem espaço em seu programa.Chitãozinho e Xororó,
por cantarem e tocarem como nos velhos tempos, também são cativos entre os
convidados –desde que apareçam sem guitarra e teclado. “Nós já sabíamos
disso quando fomos convidados” explicou Chitãozinho ao UOL. “Ela sempre foi muito dedicada ao gênero
caipira, é uma defesa dessa raiz. Tem pessoas que acham que a modernização fere
a origem.”
ressalvas. O cantor Daniel sempre tem espaço em seu programa.Chitãozinho e Xororó,
por cantarem e tocarem como nos velhos tempos, também são cativos entre os
convidados –desde que apareçam sem guitarra e teclado. “Nós já sabíamos
disso quando fomos convidados” explicou Chitãozinho ao UOL. “Ela sempre foi muito dedicada ao gênero
caipira, é uma defesa dessa raiz. Tem pessoas que acham que a modernização fere
a origem.”
Desde os anos 1970 na estrada, Chitãozinho e Xororó
não escondem que gostam das novidades, mas reverenciam Inezita, indiretamente,
no programa que apresentam no SBT, “Festival Sertanejo”. “Temos
um quadro com músicas de raiz, e é um dos momentos de maior audiência. Isso
prova que Inezita tem muita razão em falar sobre isso. Gosto do novo, mas temos
que manter a raiz, é uma responsabilidade nossa”, explica Chitãozinho.
não escondem que gostam das novidades, mas reverenciam Inezita, indiretamente,
no programa que apresentam no SBT, “Festival Sertanejo”. “Temos
um quadro com músicas de raiz, e é um dos momentos de maior audiência. Isso
prova que Inezita tem muita razão em falar sobre isso. Gosto do novo, mas temos
que manter a raiz, é uma responsabilidade nossa”, explica Chitãozinho.
Daniel, que escreve a apresentação do
livro, é só elogios à cantora. “Inezita para mim é uma referência e
há muitos anos nos conhecemos quando eu e o João Paulo participamos do programa
pela primeira vez. Ela tem sido a haste da nossa bandeira da música caipira
sertaneja, seu papel na nossa história é fundamental.”
livro, é só elogios à cantora. “Inezita para mim é uma referência e
há muitos anos nos conhecemos quando eu e o João Paulo participamos do programa
pela primeira vez. Ela tem sido a haste da nossa bandeira da música caipira
sertaneja, seu papel na nossa história é fundamental.”
“Salva pelo iê iê iê”
Inezita presenciou a efervescência cultural da
São Paulo dos anos 40, inaugurou a tradição cinematográfica paulista dos
estúdios da Vera Cruz, onde atuou em alguns filmes, foi a primeira cantora
contratada da TV Record –antes de Elis Regina- e viajou pelo interior do país
com o primo e um amigo, a bordo do seu jipe, “recolhendo” temas
folclóricos. Era independente e mais rebelde que a turma da jovem guarda. No
entanto, com a chegada de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia na TV, foi
deixada. Os shows minguaram, as apresentações na TV idem, os cachês desapareceram.
Inezita presenciou a efervescência cultural da
São Paulo dos anos 40, inaugurou a tradição cinematográfica paulista dos
estúdios da Vera Cruz, onde atuou em alguns filmes, foi a primeira cantora
contratada da TV Record –antes de Elis Regina- e viajou pelo interior do país
com o primo e um amigo, a bordo do seu jipe, “recolhendo” temas
folclóricos. Era independente e mais rebelde que a turma da jovem guarda. No
entanto, com a chegada de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléia na TV, foi
deixada. Os shows minguaram, as apresentações na TV idem, os cachês desapareceram.
“As rádios e gravadoras só queriam saber do
pessoal do banquinho-e-violão ou daquela moçadinha cabeluda e suas guitarras
estridentes”, ela conta. Acabou aproveitando a febre para ensinar violão
para a garotada na época. Foi, como conta no livro, “salva pelo iê iê
iê”.
pessoal do banquinho-e-violão ou daquela moçadinha cabeluda e suas guitarras
estridentes”, ela conta. Acabou aproveitando a febre para ensinar violão
para a garotada na época. Foi, como conta no livro, “salva pelo iê iê
iê”.
No quesito musical, ela responde na
lata: “Mas que aquelas musiquinhas eram todas água-com-açúcar, ah, isso
eram”. Roqueiro, Carlos Eduardo Oliveira disse que não teve problemas ao
visitar Inezita em sua casa em São Paulo para entrevistá-la. “Mas ela não
gosta mesmo de coisas eletrônicas, coisas que passam pelo plug”, conta.
lata: “Mas que aquelas musiquinhas eram todas água-com-açúcar, ah, isso
eram”. Roqueiro, Carlos Eduardo Oliveira disse que não teve problemas ao
visitar Inezita em sua casa em São Paulo para entrevistá-la. “Mas ela não
gosta mesmo de coisas eletrônicas, coisas que passam pelo plug”, conta.
Ainda no ar, “Viola Minha
Viola” se tornou um dos programas musicais mais tradicionais da TV.
Inezita, no entanto, não participou das duas últimas gravações, nas últimas semanas,
por estar em Campos de Jordão, na casa da filha, descansando. Não atendeu
ninguém, e sua equipe também negou o pedido de entrevista do UOL.
Viola” se tornou um dos programas musicais mais tradicionais da TV.
Inezita, no entanto, não participou das duas últimas gravações, nas últimas semanas,
por estar em Campos de Jordão, na casa da filha, descansando. Não atendeu
ninguém, e sua equipe também negou o pedido de entrevista do UOL.
Quando estiver revigorada, voltará
para gravar e marcar, finalmente, sua posse na Academia Paulista de Letras —
título que recebeu no começo do mês. Ela quer estar bem e com energia para
assumir a cadeira como folclorista.
para gravar e marcar, finalmente, sua posse na Academia Paulista de Letras —
título que recebeu no começo do mês. Ela quer estar bem e com energia para
assumir a cadeira como folclorista.