CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM
JAIRO DE LIMA ALVES
R.A 20063617 5
RESUMO
O ensino da Língua Portuguesa nos remete à importância da linguagem no processo de formação do ser humano. O enunciado de Mikhail Barthes reafirma essa necessidade universal da linguagem como atividade humana, presente em nosso percurso de sujeitos que revelam constantemente, em suas experiências linguísticas, as marcas dos seus grupos sociais. A reflexão sobre a língua na prática pedagógica, portanto, deve ser pensada a partir da ótica discursiva da linguagem, do texto como unidade de ensino e ponto de partida para as análises gramaticais e literárias, para que ocorra a ampliação do universo linguístico dos alunos. É necessário que haja o exercício social da língua, incluindo a mediação do professor no processo de aprendizagem, que é fundamental.
Palavras-chave: Educação. Professor. Aprendizagem. Língua. Pesquisa.
1 INTRODUÇÃO
A partir desses e outros preceitos teóricos, o artigo propõe uma reflexão sobre algumas contribuições conceituais do filósofo russo Mikhail Bakhtin no que tange ao ensino da Língua Portuguesa no contexto da educação profissional. A partir da pesquisa bibliográfica, buscou-se uma análise comparativa entre a concepção de educação profissional que se amplia a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB –, de 1996, e o viés social da língua proposto pela concepção bakhtiniana, segundo a qual a língua, em seu uso concreto, deve ser aprendida a partir das nossas interações em sociedade.
Essa perspectiva de trabalho, apesar de bastante propagada nas reflexões teóricas, nos documentos oficiais que norteiam as práticas docentes e nos debates acadêmicos da área de ensino da Língua Portuguesa, pode ser bastante fecunda se, efetivamente, buscarmos algumas articulações entre a concepção bakhtiniana sobre a linguagem e as nossas atividades pedagógicas presentes nas aulas de Português. O professor, buscando a metodologia adequada para o ensino de português, deve ater-se aos princípios da gramática e outros mecanismos, para ser melhor compreendido em sala de aula.
É importante abordar tema atual no contexto da linguística, levando o aluno à compreensão da metodologia aplicada. Isto é necessário, partindo da premissa “o conhecimento da língua é a base para todas as conquistas, no âmbito da linguagem”. Sim, ele escolheu um tema dessa natureza, por se tratar de elemento importante no aspecto aqui estudado.
Ao final, existe uma expectativa que o aluno “terá entendido a proposta do ensino propriamente dito”. Isto será possível, desde que o professor esteja antenado com as regras e disposto a transmitir o conhecimento linguístico da contemporaneidade.
Assim, percorrerá ele uma trajetória capaz de elucidar as dúvidas do estudante, com suas perguntas naturais durante a aula. A metodologia será com base nas estruturas de linguagem moderna e, se possível, obedecendo os princípios do educador em epígrafe, com as experiências adquiridas a longo do tempo.
2 CONTRIBUIÇÕES DE MIKHAIL BAKHTIN PARA OS ESTUDOS DA LINGUAGEM – DESENVOLVIMENTO
Em meio a tais leituras, observou-se que, no cenário da linguagem, mais especificamente nas práticas e atividades no contexto escolar, podem ser pensadas novas propostas para o ensino da Língua Portuguesa, a partir de uma perspectiva pedagógica em que sejam ressaltadas as aproximações entre as contribuições de Mikhail Bakhtin para a docência do Português nesse universo. Para o filósofo russo, o sujeito constitui-se em relação ao outro. Isso significa, que “o dialogismo é o princípio de constituição do indivíduo e o seu princípio de ação”, uma vez que a consciência constrói-se na comunicação social, ou seja, na sociedade, na História. Desse modo, o mesmo autor reitera que o sujeito vai construindo-se discursivamente, aprendendo as vozes sociais que constituem a realidade em que está imerso. Nessa aprendizagem, o sujeito torna-se constitutivamente dialógico por não absorver apenas uma voz social, mas várias que estão em relações diversas entre si, em relações de concordância ou discordância. O encontro dessas vozes com o contexto em que estão inseridas caracteriza, pois, o dialogismo como o fenômeno que ocorre em todo e qualquer discurso, que por sua vez é uma resposta a outro discurso, portanto um entrecruzamento de pensamentos. A compreensão de um texto permite o diálogo com esse mesmo texto, com o escritor e com outros textos similares já conhecidos. Com isso, dizemos que a leitura de uma obra é uma atividade sociocultural. Esse viés dialógico que se constitui a partir das interações verbais e dos enunciados dos sujeitos revela a própria história social da comunidade de falantes, a partir dos seus valores, crenças e experiências concretas de linguagem que ultrapassam o domínio linguístico, para se inscreverem no campo da reflexão estética inserida no contexto geral da cultura.
Por isso, a partir dessa abordagem em que o ensino da língua materna absorve as contradições das forças sociais presentes em cada época ou tempo específico em que vivem os seus falantes e se apresenta indissolúvel das situações concretas de linguagem das quais aqueles participam, alguns questionamentos emergem na prática docente do português no contexto da linguagem que nos impulsionam a uma possível aproximação entre a prática social do ensino da língua e as especificidades daquela educação.
Um novo enfoque para a linguagem é apresentado na Lei Federal nº 9.394/96, a Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: ela deve conduzir o cidadão “ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”, intimamente “integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia”. Esse enfoque desestabiliza a visão tradicionalista de Educação como simples instrumento de uma política de viés assistencialista, ou mesmo como estratégia apenas de preparação operacional de um determinado fazer, de maneira acrítica e descolada da cultura do trabalho e da compreensão global das questões sociais que permeiam o processo produtivo.
Sabe-se, também, que o mundo do trabalho é constantemente afetado por novas demandas e transformações sociais que propõem novos arranjos e reorganizações no universo da educação e da linguagem, de modo que o técnico deva apresentar um perfil de qualificação cada vez mais voltado à criticidade, à autonomia intelectual, à capacidade de transpor desafios e propor caminhos alternativos e criativos, condizentes com a superação de paradigmas limitadores da formação humana integral.
Portanto, o quadro que se desenha em nosso cenário, alinha-se ao novo enfoque apresentado na LDB sobre o tema, o qual amplia o compromisso atual da escola no sentido de propor novas funções para o exercício da profissão, a partir do preparo educacional voltado à cidadania e ao mundo profissional em uma perspectiva transformadora que influencie efetivamente as condições sociais, por meio do trabalho competente e em diálogo com as demandas da sociedade. Nessa concepção de formação educacional não basta apenas adquirir conhecimento ou competência técnica; é preciso, principalmente, ter condições para mobilizar esses conhecimentos e habilidades adquiridos na escola em diálogo com a vida quotidiana.
Deste modo, então, a concepção dialógica e social do ensino da língua contribuirá nas novas práticas discentes e docentes no bojo da linguagem. O professor de Língua Portuguesa poderá mediar atividades significativas de linguagem que integrem a formação global do aluno para o seu exercício profissional diante dessas novas demandas sociais surgidas no mundo do trabalho e das conquistas na sociedade.
Se o processo educacional, incluindo a linguagem aqui tratada, for levado em conta, como sugerem algumas diretrizes que norteiam a Educação Profissional, a partir de novas abordagens e enfoques legais, sem muita dificuldade, serão apresentadas algumas aproximações teóricas entre as práticas escolares da linguagem e as práticas profissionais pretendidas no mundo social.
Análises teóricas e aproximações conceituais entre o ensino da língua em uma perspectiva social e dialógica e os preceitos da educação e da linguagem, apontam possibilidades concretas entre os pressupostos presentes em documentos nacionais que orientam a práxis do ensino técnico e tecnológico e alguns valores que fundamentam o arcabouço teórico bakhtiniano.
Em estudo comparativo resultante do levantamento bibliográfico e da análise documental, podem-se estabelecer alguns pontos de contato, a partir da comparação apresentada no quadro a seguir:
A seleção de apenas alguns excertos do pensamento bakhtiniano já representa um exercício de aproximação entre a indissociabilidade de linguagem e vida social em suas variadas manifestações socioculturais que afetam os processos de trabalho e a essência teórica das diretrizes que orientam a nova concepção da educação profissional. O viés da alteridade e do respeito ético, estético e político necessário à perspectiva do desenvolvimento para a vida social, é um princípio recorrente na teoria da linguagem proposta pelo pensador russo, uma vez que aponta a necessidade do outro como elemento absoluto para a constituição como sujeitos que se tornam individuais, a partir desse encontro. É possível, portanto, a opção pelo viés social da linguagem no contexto da educação profissional, a partir do reconhecimento de alguns traços comuns entre os princípios norteadores dessa modalidade educativa e os pressupostos teóricos alinhados ao dialogismo presente nos enunciados produzidos nas interações verbais.
Como atividade humana, a linguagem permeia as relações sociais para além das finalidades didáticas que o ensino da língua tem oferecido aos alunos em sua formação acadêmica, muitas vezes dissociado das questões sociais emergentes em novos paradigmas que se delineiam no mundo do trabalho. No universo da linguagem, uma concepção docente que constitua um espaço dialógico na sala de aula e que possa promover encontros entre os variados mundos entre locutores e ouvintes em suas interações sociais, principalmente quando reportados novos paradigmas e relações profissionais que se estabelecem nas diversas formas de produção advindas da pluralidade cultural e linguística instaurada no mundo do trabalho.
3 CONSIDERÇÕES FINAIS
Para que os projetos de língua no contexto da educação e da linguagem obtenham êxito, é imprescindível que seja clara a concepção de linguagem que subjaz às teorias propostas no ensino do Português, e a que tipo de ensino elas são direcionadas. O modo como é entendida a linguagem, certamente, será refletido no modo como se lida com esse ensino de forma efetiva.
Por outro lado, uma concepção de linguagem que tenha por foco a interação social entre os falantes nas mais variadas situações comunicativas em suas especificidades econômicas, históricas ou regionais, norteará o ensino da língua materna na escola de forma reflexiva e dialógica.
Assim, os estudos gramaticais devem contemplar a relação entre a língua e o pensamento, com ênfase em todos os registros linguísticos e formas de realizações nas quais a língua é utilizada, o que supõe o preparo do aluno para o emprego adequado do Português em todas as suas formas de manifestação, da norma culta, tida como variedade padrão, aos diferentes registros da língua presentes nas situações concretas de linguagem.
Bakhtin reafirma a intersubjetividade presente nas situações em que os sujeitos interagem por meio dos seus enunciados concretos e vivos, por meio da palavra interindividual, que é lançada ao outro, carregada de significados sociais, metaforizando uma ponte entre o mundo daquele que fala e do outro para quem se fala.
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, M. (VOLOCHÍNOV, V. N). Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1997.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
BAKHTIN, M.M.; VOLOSHINOV, V.N. A interação verbal. In: Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 10. ed. São Paulo, Hucitec, 2002.
MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: 50ª Reunião do GEL – Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo, USP, São Paulo, 23-25 de maio de 2002.
MIOTELO, V. Conversas sobre Bakhtin. Revista Linguagem. Universidade Federal de São Carlos. s.d. São Carlos, SP. Disponível em <http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao05/col_cb.php>. Acesso em 23 ago. 2019.