Vasco Mousinho de Quevedo Castelbranco
Se se consultar o Pequeno Dicionário de Autores da Língua Portuguesa (1), a pouca informação nele contida não deixa dúvidas: trata-se de um poeta dos séculos XVI-XVII, poeta maneirista, nascido em Setúbal. É considerado, por Manuel Severim de Faria, o maior épico pós-camoniano e escreve também poesia lírica onde se espelha a crise de valores do Homem seiscentista. Escreveu Afonso Africano, poema épico escrito sob a matriz da Jerusalém Libertada, de Tasso – o poema, por excelência, da Contra-Reforma -, onde ainda se sente a influência camoniana; assinala uma viragem estilística e ideológica. Quanto ao conjunto das suas obras, resumem-se ao Discurso sobre a vida e a morte de Santa Isabel, rainha de Portugal e outras várias rimas (1597) (2). e Afonso Africano (1611). E parece termos aqui apresentado o poeta de que iremos falar.
Contudo, numa pesquisa mais aprofundada, descobre-se que estudou ambos os Direitos (Canónico e Civil) em Coimbra, onde frequentou a Faculdade de Cânones de 1589 a 1594 (3). Nessa mesma cidade, ao que parece, exerceu advocacia durante alguns anos (4) – pelo menos, na carta dedicatória Ao Excellentissimo Senho Duque Dom Aluaro de Lancastre, diz Vasco Mousinho ” espero cedo mostrarme Iurisconsulto”, já que vai passar a dedicar-se ao estudo a tempo inteiro (5).
Diz-nos Teófilo Braga, acerca da sua ascendência, que Vasco Mousinho era filho natural do clérigo Vasco Anes de Mousinho de Cabêdo e neto de Gonçalo Dias Cabêdo, família fidalga de Setúbal (6). Apesar de não se conhecer ao certo a data de nascimento, podem-se apontar os finais da década de sessenta e principios da década de setenta do século XVI como data provável (fazendo fé nas datas de matrícula na Faculdade de Cânones apontadas por este autor) e, no que diz respeito à sua morte, esta seria não antes de 1619, ano da publicação de El Triumpho del monarcha Fillippo tercero en la feliccissima entrada de Lisboa, dirigido al presidente Juan Furtado de Mendonça y Senado de la Câmara, Lisboa, 1619 (7). Parece ter ainda escrito várias composições poéticas resumidas num manuscrito intitulado Diálogo de Vária Doutrina. Por fim, há registo de uma composição em latim, em honra do jurisconsulto Pedro Barbosa de Soure, que foi inserta no livro que este fez publicar com o título De Judicibus (8). Há ainda um soneto cuja autoria se tem vindo a discutir e que Aguiar e Silva coloca no corpus da lírica de Quevedo (cf. Anexo i).