Os Feitos de Cornélio Pires
mencionar Cornélio Pires e o caminho por ele desbravado – e que por outros
também foi trilhado -, pois foi graças a ele que chegaram aos discos as
primeiras gravações dos genuínos caipiras, a partir de 1929.
Bairro de Sapopemba em Tietê, Estado de São Paulo. Filho de Raimundo Pires e
Anna Joaquina de Campos. Segundo confidenciou a amigos posteriormente, devia
chamar-se Rogério, mas na hora o padre, velho e surdo, ouvindo muito mal entendeu
Cornélio, e assim ficou. Morou também em Santos, Botucatu e Piracicaba,
exercendo atividades de tipógrafo, repórter e professor de educação física. Em
1910 lança seu primeiro livro “Musa Caipira” com enorme sucesso.
Produziu um total de 24 livros, nos quais se destacavam: “Quem Conta um
Conto”, “Cenas e Paisagens de Minha Terra”, “Conversas ao
Pé do Fogo”, dentre outros.
Corria o ano de 1929. O Brasil enfrentava uma crise muito grande. Cornélio já
firmava nome ao lado de Setúbal, Valdomiro Silveira e outros. Como abraçara o
dialeto caipira desde 1910 com “MUSA CAIPIRA” botou a ideia na cabeça
de que também devia colocar em discos as suas anedotas e a autêntica música caipira.
Residindo em Piracicaba, sabia que lá existia autênticos cantadores e
violeiros. Já fizera apresentações com Nitinho e Sorocabinha. Então tentou gravar, mas as gravadoras não
aceitavam o gênero caipira. Cornélio insistiu e bancou do próprio bolso uma
gravação de seis discos, com cinco mil cópias cada um. Pagou adiantado, foi a
Piracicaba e lá organizou a sua famosa “TURMA CAIPIRA CORNÉLIO
PIRES”, que na sua primeira fase era composta por Arlindo Santana e
Sebastiãozinho (Sebastião Ortz de Camargo), Zico Dias e Ferrinho, Mariano da
Silva e Caçula, Mandi e Sorocabinha (Olegário José de Godoy). Os discos saíram
em maio de 1929 com nove números de humorismo interpretados pelo próprio
Cornélio Pires e mais três danças paulistas, um samba paulista, um desafio, e
intercalados uma cana verde e um cururu. No segundo suplemento de cinco discos,
foi que a dupla Mariano e Caçula gravou e lançou em outubro de 1929 a primeira
moda de viola gravada no Brasil, que se chamou Jorginho do Sertão. A segunda
música gravada foi a Moda do Peão, ou Vida Minha e a terceira foi Bigode
Raspado. Cornélio e sua turma caipira, viajaram por muitas cidades do interior
de São Paulo, e fizeram apresentações na capital sempre com muito sucesso. O
fracasso em que o diretor da gravadora Colúmbia apostou, não aconteceu. As
pessoas faziam filas na gravadora tentando adquirir os discos. Saíram reedições
dos discos. Foram gravadas 104 músicas em
52 discos de 78 rotações, de 1929 a 1930. Esses discos traziam músicas de Raul Torres, com o
pseudônimo de Bico Doce, de Paraguaçu, com o pseudônimo de Maracajá, e também
de outros artistas que gravaram na Série Cornélio Pires, discos de selo vermelho, que só Cornélio podia
vender. Novas duplas surgiram, tais como Nhô Pai e Nhô Fio, Xerém e Tapuia,
Palmeira e Piraci, Alvarenga e Ranchinho, dentre outros. Cornélio Pires saía
com dois carros anunciando as apresentações e lançamento do disco. Um dos
carros ia lotado de discos e livros.
Lançada a semente do sucesso, foi aparecendo mais gente e melhorando tudo, definitivamente.
O grande público começou então, a ouvir a música dos caipiras. Nas décadas
seguintes, apareceram grandes nomes e bons compositores, melhorando o linguajar
falado e escrito. A música deixou de ser folclore para chamar-se “Música Sertaneja”.
Cornélio Pires, que era Espiritualista ficou
conhecido como o “Bandeirante do Folclore Paulista”. Morreu na cidade
de São Paulo no 17 de fevereiro de 1958,
com 74 anos de idade.