O que é dízimo? Imediatamente você poderá imaginar: Dez por cento dos meus rendimentos para os cofres da igreja. Será que o Senhor Deus ainda exige que os cristãos pratiquem alguma ordenança da lei do Antigo Testamento, pela qual foi instituído o dízimo, mesmo depois que seu amado filho Jesus se entregou em sacrifício vivo na cruz do calvário? O teólogo Juarez Cunha, com propriedade, esclarece todas as dúvidas a respeito do dízimo nos dias atuais. Vamos conferir o que a Bíblia ensina e conhecer a verdade que envolve a doutrina do dízimo, que está sendo pregada de maneira distorcida, por muitos líderes religiosos.
O dízimo foi instituído na lei de Moisés, a qual foi cumprida por Cristo conforme escreveu Mateus 11:13, e nas epístolas paulinas Romanos 3:28 e Gálatas 4:4-5, além de outras referências bíblicas. A Palavra de Deus não deixa dúvida quanto ao dízimo da lei de Moisés o qual era mandamento apenas ao povo de Israel, nunca para a Igreja de Jesus. Cristo fez uma Nova Aliança no seu sangue e revelou a graça e a salvação por meio da fé (João 1:17).
É profundamente lamentável o que está acontecendo nos dias de hoje, quando o dízimo virou uma verdadeira exploração financeira em muitas denominações religiosas, chegando ao cúmulo de alguns pregadores dizerem que “quem não dá o dízimo está roubando a Deus e por isso irá para o inferno.” O dízimo, segundo a lei, não era dinheiro, mas sim, dez por cento dos produtos da Terra, para suprir as necessidades dos levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas na nação de Israel.
Então alguém poderá apontar para Malaquias 3:10 para justificar que foi ordenado levar o dízimo para casa do tesouro. Malaquias estava se dirigindo a Israel para que estes levassem os dízimos ao Templo de Jerusalém. Em Malaquias 1:1 diz “Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel”. Ele inclusive falou que os Israelitas não estavam cumprindo a lei de Moises (Ml 4:4). A ordem de levar os dízimos à casa do tesouro foi para Israel, após e exílio babilônico; nunca isso foi ordenado para a Igreja de Cristo.
No Antigo Testamento, o rigor da ordenança do dízimo era a garantia do mantimento com abundância. Pagava-se o dízimo, para receber recompensa das coisas materiais, mas Cristo em sacrifício vivo pagou o mais alto preço, o preço de sangue para que recebamos o perdão, a graça e a vida eterna. Em Mateus 10:8 Jesus manda pregar o Evangelho e não cobrar por isso: “de graça recebestes, de graça daí.”.Jesus ensinou ainda: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Jesus não ensinou a pagar dízimos para receber algo de Deus.
OS DÍZIMOS ANTES DA LEI
O DÍZIMO DE ABRAÃO – Gênesis 14:18-20 – Abraão deu o dízimo dos despojos da guerra ao rei Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, e foi por ele abençoado. Ficou registrado na Bíblia que Abraão deu o dízimo apenas uma única vez sobre os despojos de guerra. Abraão não pagava dízimo de suas rendas. Abraão deu algo de forma voluntária, algo que partiu do seu coração, diferente dos nossos dias quando os membros de muitas denominações são coagidos a dizimar, sob pena de estarem em pecado se não o fizerem.
Assim sendo, hoje não se pode tomar como exemplo os dízimos de Abraão nem de Jacó, como fundamento para implantá-los como regra geral de doutrina nas igrejas, com o propósito de receber bênçãos materiais e salvação.
OS DÍZIMOS PELA LEI
Números 18:21, 24, 26 – O pagamento do dízimo teve ordenança, fazendo parte do contexto da lei cerimonial do Antigo Testamento e a sua principal finalidade era suprir as necessidades dos Levitas que não tinham parte nem herança na terra prometida. Deuteronômio 14:22-29 – Então virá o levita, que nem parte nem herança tem contigo, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos que fizeres.
Ainda que os dirigentes das igrejas revertessem toda a renda dos dízimos e ofertas em obras sociais, não estariam em conformidade com a palavra do Senhor, pois além do dízimo ter sido abolido (Hebreus 7.5-12), a caridade ou amor ao próximo, é novo mandamento de Jesus (Jo 13:34) e isso é intransferível, é algo pessoal.
As tribos de Israel dizimavam aos Levitas o necessário para a manutenção cotidiana, porque não possuíam propriedades na terra. Hoje, a situação está inversa, os trabalhadores, a maioria deles assalariados de baixa renda, ofertam o dízimo para líderes religiosos que vivem sem trabalhar, muitos levando uma vida regalada, em abundância de bens e luxo, com salários incompatíveis com a realidade dos fiéis sob pretexto de ministrar a obra de Deus. O Apóstolo Paulo ensinou: “quem não quiser trabalhar que não coma (2 Ts 3:10)”. E mais: “nunca comemos nosso pão as custas dos irmãos, mas trabalhamos com nossas próprias mãos (2 Ts 3:8)”.
No Evangelho de Cristo somos ensinados a fazer caridade, a orar, a jejuar (Mateus 6:1-18), e uma infinidade de outros ensinamentos, porém nas duas únicas vezes que Jesus referiu-se aos dízimos, foi com censura: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o Juízo, a misericórdia e a fé; devíeis, porém fazer estas coisas e não omitir aquelas.” Alguns defendem que Jesus ordenou que se dizimasse quando disse: “Devíeis fazer estas coisas”. É preciso entender a Palavra de Deus:
Verdadeiramente, Jesus cumpriu toda a lei. Foi circuncidado aos oito dias, foi apresentado na sinagoga (Lucas 2:21-24), assumiu o seu sacerdócio aos trinta anos (Lucas 3:23, Números 4:43, 47), curou o leproso e depois o mandou apresentar ao Sacerdote a oferta que Moisés ordenou (Mateus 8:4, Levíticos 14:1…), e cumpriu outras formalidades cerimoniais da lei. Porém, quando Cristo rendeu o seu espírito a Deus (Mateus 27:50-51), o véu do Templo rasgou-se de alto a baixo, então, a partir daí, passamos a viver, pela graça do Senhor Jesus, encerrando-se ali, todas as ordenanças da lei de Moisés, sendo cumprido em Cristo o Antigo Testamento. A partir daí temos uma Nova Aliança, o Evangelho da salvação do mestre Jesus por meio da fé (Ef 2:8, Rm 1:17).
Ele disse: “Um novo mandamento vos dou” João 13.34. “Se a justiça provem da lei, segue-se que Cristo morreu em vão” (Gálatas 2:21). “Libertados da lei…servimos a Deus em novidade de espírito”. (Rm 7:6). O texto de Mateus 23:23 que diz “Devíeis fazer estas coisas sem omitir aquelas” Indica um acontecimento que se prolongou ao longo do tempo com início e fim no passado.
A ABOLIÇÃO DOS DÍZIMOS – Hebreus 7:5 “E os que dentre os filhos de Levi receberam o sacerdócio tem ordem, segundo a lei, de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão”. Neste versículo, a palavra afirma que os sacerdotes Levitas recebiam os dízimos por ordem da lei de Moisés. Hebreus 7.11 – “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio Levítico, (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade se havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque (referindo-se a Jesus Cristo) e não fosse chamado segundo a ordem de Arão”? (referindo-se a Moisés, o qual introduziu a lei ao povo).
Hebreus 7.12 – “Porque mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança na lei”.
Meditando no texto acima, especificamente nestes versículos, onde a palavra do Senhor diz: “Que os sacerdotes Levíticos recebiam os dízimos segundo a lei” (Hebreus 7.5), “Porque através deles (sacerdotes Levíticos) o povo recebeu a lei” (Hebreus 7.11) e mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também, mudança na lei (Hebreus 7.12), a Palavra não deixa qualquer sombra de dúvida, que não só o dízimo, mas toda a lei de Moisés foi por Cristo abolida. Mudou o Sacerdócio, necessariamente, mudou também a lei. Jesus tornou-se o sumo sacerdote. (Hb 7:24-28)
CONSIDERAÇÕES FINAIS – No Evangelho de Cristo não há ordenança para se tomar o dízimo, ou para se cumprir qualquer outro ritual da lei. Jesus mandou pregar o seu Evangelho de graça (Mt 10:8), ordenou amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, isto é, auxiliar os necessitados, e não estipulou percentual ou limite para isso. Em 1 Co 9:14 diz: “aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho”. Aqui não ensina a viver de dízimos, mas viver como Jesus e todos os apóstolos e discípulos viveram.
Finalizando, se é bíblico o pagamento de dízimos (Número 18.21-26), também são bíblico: o ensinamento da circuncisão (Gênesis 17:23-27), o sacrifício de animais em holocausto (Levíticos 1 até 6.8 a 13), a santificação do sábado (Levíticos 23:3), o apedrejar adúlteros (Levíticos 20:10 e Deuteronômio 22:22), e outros. O dízimo é bíblico sim, mas não é doutrina para estes dias.
O dízimo hoje é remanescente por razões óbvias. Primeiramente, pela conveniência dos que recebem, pela ausência de entendimento da palavra de Deus, não diferenciando a lei de Moisés feita de ordenanças simbólicas e rituais, com a Graça do Senhor Jesus Cristo, o qual veio justamente para nos libertar do jugo da Lei (Rm 10:4).
Os que se beneficiam pelos dízimos incorrem no erro consciente dessa prática e assumem o risco dolosamente pela desobediência à Palavra de Deus inspirada e pela absoluta falta de temor ao Deus Todo-Poderoso..