Então, vi em meu sonho que Esperançoso olhava para trás. E eis que viu Ignorância se aproximando, aquele homem que já haviam encontrado antes no caminho. — Olhe lá — disse ele a Cristão. — Veja só o quanto este rapaz se retardou pelo caminho. CRISTÃO — É verdade, lá vem ele. Não queria mesmo a nossa companhia. ESPERANÇOSO — Mas, creio eu, não lhe faria mal se nos tivesse acompanhado. CRISTÃO — De fato. Mas lhe garanto que ele pensa de outro modo. ESPERANÇOSO — Também acho. Seja como for, esperemos um pouco por ele. E esperaram. Quando já estava próximo, Cristão o chamou: — Vamos homem, por que é que você ficou tão para trás? IGNORÂNCIA — Prefiro caminhar sozinho, a menos que goste mais da companhia. Cristão então sussurrou a Esperançoso: — Não lhe disse que ele pouco se importa com a nossa companhia? Mas assim mesmo vamos tratar de passar o tempo conversando, pois este lugar aqui é mesmo solitário. Dirigindo-se agora a Ignorância, falou: — Ora, como vai? Como anda a relação de sua alma com Deus?
Será insensato, Ignorância, a ponto mesmo De desprezar o conselho, andando a esmo? E se ainda o recusa, saberá logo, é certo, O mal que se faz, julgando-se assim desperto. Lembre-se, homem, não tema, tempo ainda há, Pois quem aceita o bom conselho salvo será. Ouça, então: se ainda assim o despreza, tonto, Sairá perdendo e há de chorar o desaponto.