Cristão e Esperançoso atravessam o Rio da Morte e entram, finalmente, na Cidade Celestial. – Vi então em meu sonho que a essa altura os peregrinos deixavam o Solo Enfeitiçado e entravam na terra da Desposada, de ar bem doce e agradável. Como o caminho atravessasse essa terra, ali puderam se deleitar por certo tempo. Ouviam continuamente o canto dos pássaros, viam todo dia as flores brotando da terra e ouviam a voz da rolinha. Nessa terra, o sol brilha noite e dia, pois já estavam além do Vale da Sombra da Morte e fora do alcance do gigante Desespero. Desse lugar tampouco se avistava o Castelo da Dúvida. Dali já enxergavam a cidade para onde se dirigiam. Também encontraram por ali alguns de seus habitantes, pois nessa terra, já às portas do céu, os seres resplandecentes costumavam caminhar. Foi aqui também que se renovou a aliança entre a noiva e o noivo, e assim como o noivo se alegra da noiva, também o seu Deus deles se alegra (Is 62:5).
Mas o homem nada dizia. Então chamaram o Rei, que não quis descer para vê-lo, mas chamou os dois seres resplandecentes que conduziram Cristão e Esperançoso e ordenou-lhes que fossem lá fora atar os pés e as mãos de Ignorância para lançá-lo fora. Então eles o agarraram e o levaram pelos ares até a porta que vi na encosta do morro, atirando-o lá dentro. E vi assim que, também dos portões do céu, não só da Cidade da Destruição, havia um caminho até o inferno. Despertando, porém, vi que tudo não passara de um sonho.