No Limíte
Tenha um pouco de paciência e antes de deletar este artigo do Arnaldo Jabor. Leia-o com atenção e forme um quadro mental do nosso Brasil, ou pelo menos no que o nosso País se transformou. Sei que só a leitura não irá mudar nada no Brasil, mas servirá para que cada um tenha a consciência de onde se encontra e o legado que, todos nós, estaremos deixando para os nossos filhos e netos. (Anatoli Oliynik -Curitiba)
“O primeiro passo na busca da felicidade éaprendermos a colocar inteligência nas nossas emoções”
No limite
“O Brasil e o mundo podem prejudicar a sua saúde ! Minha profissão é ver o mal do mundo mas, um dia, a depressão bate.
Não agüento mais ver o Lula de boné dançando xaxado, não agüento ver o Sarney feliz, mandando no país, guardando o PT no bolso do jaquetão, enquanto os petistas, comunistas, tucanistas e fascistas discutem para ver quem é mais de esquerda ou de direita, enquanto o país afunda em violência e miséria, com o Estado sendo loteado entre esquerdistas sem emprego.
Não dá mais para ouvir que há transgênicos de esquerda ou de direita, principalmente quando ninguém consegue impedir as queimadas na Amazônia.
Passo mal também quando vejo a cara dos oportunistas do MST, com a bênção da Pastoral da Terra, liderando pobres diabos para a revolução contra o capitalismo, não agüento secretários de Segurança falando em forças-tarefa, em presídios perfeitos que não conseguem nem bloquear celulares, não suporto ver que o Exército se recusa a ajudar na repressão ao crime, com generais tão eficazes para arrasar a guerrilha urbana nos anos 70.
Não suporto a polêmica desenvolvimento x austeridade, planos B, C e D, tenho horror do Fome Zero, tenho enjôo com vagabundos inúteis falando em utopias, bispos dizendo bobagens sobre economia, acadêmicos rancorosos decepcionados com Lula, não agüento mais ver a República tratada no passado, nostalgias de tortura, heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhuma idéia para nosso futuro.
Não tolero mais a falta de imaginação política, a retórica da impossibilidade sem saídas pontuais e originais, e vejo que a única coisa que acontece é que não acontece nada e que os juros baixos não acontecem nunca e penso: “Ahh… se os homens de bem tivessem a imaginação dos canalhas!”.
Não aturo mais essa dúvida ridícula que assola a reflexão política: paciência x voluntarismo, processo x solução, continuidade x ruptura. Passo mal vendo político pedindo CPI para se lavar, deprimo quando vejo a militância dos ignorantes, a burrice com fome de sentido, o vice Alencar no bordão da queda dos juros e o Palocci dizendo que não dá pé.
Tenho engulhos ao ver essa liberdade fetichizada que rola por aí, produto de mercado, ao ver êxtases volúveis de clubbers e punks de boutique, livres dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias, buscando ideais como a bunda perfeita, bundas ambiciosas, querendo subir na vida, bundas com vida própria, mais importantes que suas donas, odeio recordes sexuais, próteses de silicone, sucesso sem trabalho, a troca do mérito pela fama.
Não suporto mais anúncio de cerveja fazendo competição entre louras burras e Zeca Pagodinho jogado numa cilada, detesto bingo, pitbulls, balas perdidas, suspense sobre espetáculo de crescimento, abomino a excessiva sexualização de tudo, com bombeiros sexy engatados em mulheres divididas entre a piranhagem e a peruíce, o sexo como competição de eficiência. Onde está a sutileza calma dos erotismos delicados? Onde, o refinamento poético do êxtase? Repugna-me ver sorrisos luminosos de celebridades bregas, passo-de-ganso de manequim, saber quem come quem na “Caras”, mulher pensando feito homem, caçando namorados semanais, com essa liberdade vagabunda para nada.
Não agüento mais chuvas em São Paulo e desabamentos no Rio, gente afogada na Nove de Julho, enquanto a Igreja Universal constrói templos de mármore com dinheiro dos pobres e destrói a religião negra da Bahia. Não agüento mais ver que a pior violência é o acostumamento com a violência, pois o mal se banaliza e o bem vira um luxo burguês.
Não admito mais ouvir falar de globalização, enquanto meninos miseráveis fazem malabarismo com bolinhas de tênis nos sinais de trânsito do Rio. Não agüento cariocas de porre falando de política, festas de celebridades com cascata de camarão, matéria paga com casais em bodas-de-prata, evangélicos intocados pela lei, novas forças-tarefa, Lula com outro boné, políticos se defendendo de roubalheira falando em honra ilibada, conselhos de notáveis para estudar problemas sem solução, anúncios de celular que faz de tudo, até boquete.
Dá-me repulsa ver Maluf negando, Pitta negando, o Sombra negando, enquanto juízes corruptos reclamam do controle do Judiciário.
Tenho medo de tudo, inclusive da minha antiga e endêmica depressão, essa minha vã esperança iluminista. E tenho medo, acima de tudo, que as pessoas não agüentem mais a democracia e joguem o país de vez no buraco”. (Arnaldo Jabor)