Quando adentramos ao Templo, duas colunas chamam nossa atenção: uma que nos apresenta a letra B e outra a letra J. Essas letras são, respectivamente, as primeiras letras das Palavras Sagradas das Colunas do Norte e do Sul, ou seja, as Palavras Sagradas dos graus de Aprendiz e Companheiro.
Os três graus simbólicos – Aprendiz, Companheiro e Mestre – são os três estágios pelos quais passamos na Maçonaria Simbólica, buscando desenvolver, na senda do nosso crescimento integral, as capacidades de intuição, análise e síntese[1].
É claro que, como em toda realização humana, essas qualidades podem ser realmente buscadas pelo maçom ou simplesmente incorporar seu discurso, sem nunca sair do nível do falado. Mesmo quando sinceramente buscadas, sua realização é relativa, pois os níveis de desenvolvimento humano dependem muito das condições e possibilidades individuais.
Dessa forma, a Maçonaria, como qualquer instituição humana, só pode julgar o que é aparente, o aspecto fenomenal. De nosso íntimo, cada um de nós prestará contas solitariamente à Consciência Cósmica.
Consideremos, contudo, que nossa intenção na Ordem seja buscar sinceramente a evolução, tornando-nos seres integrais (física, mental e espiritualmente). Nesse caso, o que significará o primeiro grau, o de Aprendiz, cuja Palavra Sagrada nos foi dada na Iniciação?
Temos, por um lado, que esse grau busca desenvolver a intuição e, por outro, que ele é designado por essa palavra que significa Força. Intuir vem do latim intueri, que significa visão rápida e completa de uma coisa; conhecimento espontâneo. Em linguagem científica, o termo da moda seria insight, cuja melhor tradução, na linguagem vulgar, é clic!
Por (e para) isso, no grau de Aprendiz se apresenta ao recém iniciado uma visão panorâmica da doutrina e da simbologia maçônicas, expressas nas Instruções e em todos os símbolos que ornamentam a Loja, especialmente no Painel do Grau. É uma apresentação maciça que visa, mais do que apresentar o embasamento dos graus simbólicos aí contidos, chocar o neófito, para conduzi-lo ao insight, a ter o clic do “Ah! Então é isso!”. Isso, é o caminho que, uma vez vislumbrado, passa a nos atrair irresistivelmente, mesmo contra todas as imperfeições e aparentes contradições que percebemos na face humana da instituição.
É nesse momento que entra o aspecto da força, o B da primeira Coluna. Mas o que tem a força a ver com o desenvolvimento humano, especialmente o espiritual?
Os grandes paradoxos que se nos apresentam durante a vida toda, as contradições que constituem a realidade, não são mais do que o motor do eterno movimento de todas as coisas. Por isso eles nos chocam, quando os percebemos, desafiando-nos a analisá-los em busca de eternas mas efêmeras sínteses (olha, de novo, o paradoxo!).
Os Evangelhos, como a maioria das escrituras sagradas de todos os povos, acham-se cheios dessas aparentes contradições. Por exemplo, lemos em Mateus 11,12 o Cristo dizer que “desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus irrompem com violência e violentos o arrebatam”. Ora, de que violência nos fala o Messias, que veio pregar o reino do amor, da ternura e da mansidão?
Façamos uma breve reflexão sobre algo muito comum em nossas vidas: quantas e quantas vezes, reconhecendo nosso sedentarismo, nos propusemos a seguir um plano de exercícios físicos? Talvez até tenhamos lido sobre o assunto e, inclusive, comprado uma esteira ou um conjunto de pesos. Mas nunca chegamos à terceira sessão…se é que fomos tão longe!
Meditação! Palavra tão atraente a toda gente, especialmente a nós, que nos consideramos com pendores místicos. Se fizermos um gráfico com duas curvas, uma representando todos os livros e artigos que lemos sobre meditação, e outra as horas que efetivamente dedicamos a meditar, que figura encontraremos? Provavelmente a primeira será uma curva ascendente e a segunda não se afastará muito além do eixo dos x.
O filósofo grego Sócrates, notável por sua coerência levada ao extremo, disse que só aprendemos realmente aquilo que nos modifica. Essa é uma verdade fundamental: se o conhecimento não nos conduz à mudança, ele não é conhecimento, é apenas informação.
Feitas essas reflexões, já podemos saber de que força nos fala a Coluna B e de que violência nos falam os Evangelhos: a força da perseverança, da busca constante, da resistência contínua a todos os nãos que nossa tendência à inércia nos grita. A força de fazer com que a prática de nossas intenções comece agora, e não na próxima segunda-feira. A força de dizer não aos apelos do hábito e às tentações das circunstâncias. A força de subjugar nossas paixões e submeter nossa vontade aos valores mais elevados.
Essa a tarefa que temos como Aprendizes! Não é uma tarefa que será cumprida no primeiro grau, mas uma aquisição do espírito que deverá nos acompanhar para sempre: a intuição aliada à força.
Os graus simbólicos não são gavetinhas estanques, mas níveis que se interpenetram, um pressupondo o outro, os mais “altos” se apoiando nos mais “baixos”.
Essa é a semente que se pretende plantar nesse grau. O resto depende do solo!
[1] José CASTELANI, O Rito Escocês Antigo e Aceito, Londrina: A TROLHA, 1996.