Entre os símbolos, os números encontram lugar privilegiado. Todas as religiões e escolas místicas de pensamento, ciência, etc., não prescindem deles. Na maçonaria, o estudo dos números ocupa lugar privilegiado em todos os graus.
Já Pitágoras, filósofo grego nascido na ilha de Samos no século VI a.C., um dos maiores pesquisadores dos números entre todos os homens, fez desses o centro de seu sistema filosófico-místico, buscando o conceito de harmonia na sociedade, no espírito, na música, enfim, em todas as coisas.
Para os pitagóricos, a terra era uma estrela esférica entre outras, girando em torno de um fogo central, com suas distâncias coincidindo com intervalos musicais, de modo que no universo ressoa uma harmonia, por eles denominada harmonia das esferas.
Em dois outros artigos tratamos, de forma breve, dos números em suas relações com a Astrologia, não como uma “ciência adivinhatória”, mas como um antigo estudo da descrição e da caracterização dos vários tipos humanos.
O caráter dialético de todos os fenômenos, que revela as contradições, as imbricações e as tendências de seus componentes, o famoso “perigo do número dois”, tem sido motivo de estudo e reflexão por parte de todos os maçons.
A manifestação trina de Deus, que faz do número três um tão importante objeto de reflexão, é concepção encontrada em todas as religiões organizadas conhecidas (não só no cristianismo, como podemos pensar), além de ser fundamento de todas as teorias esotéricas de que temos conhecimento.
Os signos zodiacais, verdadeira tipologia do caráter humano em evolução, além de doze, número sagrado dos pitagóricos, coincidem (sic) com os doze apóstolos. Há estudos sobre a famosa representação da “santa ceia” de Da Vinci, procurando vincular a representação dos apóstolos ao zodíaco.
Isso tudo para não falar no importante livro do Apocalipse de João, onde o número é uma das importantes chaves de decodificação.
Não são poucas as pessoas, entretanto, que consideram essas visões “esotéricas” de mundo ou pura bobagem ou vestígios do pensamento pré-científico.
Será, entretanto, que o fato de os pitagóricos realmente maravilharem-se frente à descoberta de que os quadrados se podem formar como somas dos números ímpares sucessivos, 1+3+5+…+ (2n-1)= n2, foi resultado de primitiva ignorância, ou nós é que perdemos a capacidade de nos maravilharmos com o Universo, como todos os grandes cientistas o fizeram e ainda o fazem?
O fato de a televisão ter entrado em nosso cotidiano faz com que, mesmo que não conheçamos o como de seu funcionamento, não paremos um minuto para nos maravilharmos com sua realidade. O fato de as notícias de tragédias, mortes, guerras, etc, terem se tornado cotidianas, anestesiaram de tal forma nossos sentimentos que não mais nos horrorizam. A banalização traz uma anestesia nos sentimentos.
Não será isso que aconteceu, também com nossa espiritualidade? Hoje milhares de pessoas falam em Deus e dizem crer n’Ele. Quantas pessoas realmente agem como se Deus fosse uma verdade em suas vidas?
Para a grande maioria de nós, os números são coisas “para cientista”, o que por si só já mereceria um estudo psicossociológico.
O mistério de as medidas das pirâmides conterem relações geodésicas precisas, impossíveis (pelo que sabemos) de serem conhecidas naquela época, não nos espanta. O simples fato de serem os números e as relações geométricas e trigonométricas fruto de descoberta e não de invenção do homem já não é fascinante?
O número é um ente abstrato não confundível com sua expressão. Não é maravilhoso saber que, ao contrário do que vulgarmente pensamos, os números e suas relações precederam no mundo a cada um de nós?
Mas os conhecimentos esotéricos não são, felizmente, conhecimentos inúteis que servem apenas para “entreter” o tempo de alguns lunáticos ou desocupados.
Da tentativa de conhecer a ordem por detrás do caos, dos pitagóricos herdamos muitos e importantíssimos conhecimentos matemáticos bastante “práticos”. Só recentemente a ciência médica vem suspeitando do valor de muitas “superstições” populares. A partir do estudo científico da energia, por exemplo, uma pesquisadora científica da NASA descobriu que a aplicação da energia para a cura de males humanos é uma possibilidade.[1].
Na verdade, não há um conhecimento cientifico; o que ocorre é que nossa época elegeu o conhecimento empírico como o único “oficial” e, portanto, “correto”.
Entre tantas utilizações práticas do conhecimento esotérico, uma vem se generalizando nos últimos anos. Trata-se do ENEAGRAMA. O Eneagrama é um modelo de classificação tipológica que provém da antiga sapiência dos sufistas orientais, tratando-se, em essência, da descoberta de própria máscara, do falso eu, que se expressa em uma de nove (daí eneagrama) formas. Conhecer a si mesmo e descartar-se da máscara é libertar-se e, assim, adquirir a possibilidade de poder relacionar-se com Deus de forma livre e perfeita, sem “jogo” e sem “bloqueios”.
Os pontos de partida do Eneagrama são os becos sem saída que entramos em nossas tentativas de nos proteger contra ameaças internas ou externas. O Eneagrama é extremamente antigo e era transmitido, tradicionalmente, apenas dentro de escolas esotéricas, sem ser de domínio público. Era um conhecimento iniciático. Foi desenvolvido pelos sufistas, ao término da Idade Média.
Esse grupo místico muçulmano, de vida ascética, que surgiu por volta de cem anos após a morte de Maomé, desejava tomar consciência do amor infinito através da oração e da meditação. Nessa busca, julgaram perceber nove padrões constantes que faziam as pessoas não encontrarem Deus, mas esbarrarem-se continuamente em si mesmas.
As nove “faces da alma”, os doze tipos zodiacais, os quatro temperamentos de Hipócrates, as oito combinações de funções de Jung, enfim, todas as análises da vida interior humana feitas pelos místicos de todas as correntes e religiões, sejam judaicas, zen-budistas, sufistas, rozacrucianas, etc, são impressionamente coincidentes (sic) em suas intuições fundamentais.
No século XV os matemáticos islâmicos descobriram o zero e desenvolveram o sistema decimal. Descobriram ainda que quando se divide 1 por 3 ou por 9 se encontra um outro tipo de número, a dízima periódica. Estas descobertas e o conhecimento da alma humana dos sufistas confluíram para formar o simbolismo do Eneagrama, que os sufistas chamaram de “semelhante” de Deus.
O Eneagrama consiste num círculo cuja circunferência é dividida em nove pontos, numerados de 1 a 9 no sentido horário. Os pontos 3, 6 e 9 ligam-se entre si, formando um triângulo retângulo. Um hexágono perpassa os pontos 1, 4, 1, 5, 8 e 7.
Esses números, curiosamente, são os algarismos que formam sempre a dízima encontrada pela divisão de qualquer número por 7, menos o próprio.
O filósofo e místico caucasiano Georg Gurdjieff (1870-1949), estudou o eneagrama no Tibet e o chamou de perpetuum móbile, tendo-o comparado à “pedra filosofal”.
O Eneagrama nos auxilia a descobrimos e a nos libertarmos de nossos dons que, curiosamente, são também nossos pecados (ah! Esse número 2!).
Por que nossos dons tornam-se nossos pecados? Porque nos aferramos a eles, tornando-os a nossa personalidade, o único lado com que nos mostramos em nossas relações e, com isso, diminuímos e empobrecemos nossas vidas. Libertar-se dos dons (não eliminá-los, mas alargá-los) é o trabalho fundamental.
Interessante (repetimos) que essa visão coincide com uma abordagem psicológica do zodíaco – diferente da visão fatalista do signo -, que coloca nosso signo como a “tendência” a ser transcendida, a ser alargada, a ser superada. Nossa completude seria, assim, a realização de todos os signos (tendências ou dons). Não parece a representação da roda da vida do hinduísmo? Não parece, também, um caminho possível para “lapidar a pedra bruta?”.
Quando estamos na armadilha de nosso número não somos realmente livres.
No Eneagrama, cada três tipos formam um grupo. O grupo que abrange os números OITO, NOVE E UM, formam o grupo das pessoas do ventre; os tipos DOIS, TRES E QUATRO, o das pessoas do coração; os tipos CINCO, SEIS E SETE, o das pessoas da cabeça. Nota-se, aqui, notável coincidência (sic!), de novo, com os sinais de cada um de nossos graus.
A propósito disso, Gurdjieff atribui diferentes “inteligências” à cabeça, ao coração e ao ventre.
Interessante, finalmente, notar que o número nove, em nossos estudos, representa “o ato realizado e sua repercussão permanente. A experiência do passado, semente do futuro”.
Estas reflexões têm o escopo de recordar a necessidade do contínuo esforço para desvelar os mistérios. Tudo quando acima expusemos significou não um desvendamento de algum conhecimento tradicional e esotérico que chegou até nós de forma misteriosa, mas um apontar para a necessidade de usarmos nossos maços e nossos cinzéis, réguas e compassos, para furarmos o granito de nossa ignorância e de nossos preconceitos e chegarmos ao ponto de nós mesmos onde está a grande recompensa de todo trabalho humano: o EU em toda sua pureza e magnitude.
[1] BRENANN, Bárbara Ann. Mãos de Luz. São Paulo: Editora O Pensamento, 1994.