SÍMBOLOS E EMBLEMAS ROSACRUZES
Já vimos alguns aspectos do que pode ser considerado o principal emblema R&C: seu Nome, e dizemos “principal” porque é o que a Irmandade escolheu para dar-se a conhecer. Vejamos agora com mais detalhe os elementos que o constituem.
A CRUZ. A Cruz em suas múltiplas formas, é um instrumento para a manifestação do Fogo, que em relação com as coisas do espírito, deve se entendida como o da inteligência. É instrumento de violência e tormento, ‘‘a dolorosa tarefa de pensar’’.
A Cruz – o cruzamento de duas linhas – é, talvez, o símbolo primário da Luz. Idêntica ao ponto no círculo que é outra de suas formas, o TAU deriva a sua do instrumento com o que na remota antiguidade se fazia sair o fogo, a “luz oculta”, da madeira. Mais tarde, se identifica com outro instrumento, também de analogias ígneas: o martelo de Thor, ou o machado – o machado duplo – com que Plutão parte em dois a fronte de Zeus abrindo assim caminho para o nascimento de Pallas Athenea – a deusa da Sabedoria: outro emblema de Fogo. A Cruz não representa a união do Binário: não é símbolo de Conjunção. É emblemática do Fogo o qual, mesmo procedendo daquela, é CAUSA e não efeito da União pela qual surge. É UM: NÃO é “união”. Signo da manifestação tetra-direcional do Um, representa a atividade criadora, ou mais precisamente “aparicional”. Em conseqüência PODE entender-se como a função dos sexos que mantém a Continuidade da vida, e assim o interpretam os vitalistas. Porém em sua melhor acepção é o ideograma NÃO da ferramenta que acende o fogo físico nem deste, NÃO da conjunção dos sexos e da Geração, senão do ÓRGÃO DA VOZ, da boca e a língua, da inicial de Theos – ou seja: de Zeus, o Verbo Manifestado. Como o duplo maço da divindade máxima dos celtas nórdicos, alude à dupla atividade – criadora e destruidora do Fogo. No caso do fogo intelectual que o Neófito emprega para libertar-se de condicionamentos e adaptar-se às necessidades da Obra Maior.
Às vezes, o ponto central do círculo se representa com uma pomba, o “mensageiro”, “anjos” em grego – porque o Fogo – a Palavra Manifestada que procede da , ou é o . Este emblema (a pomba) alude especialmente ao “Espírito Santo”, o que faz surgir a Luz da alma e produz o despertar da Consciência. Uma das formas da Cruz (de origem egípcia, que recolheram os Templários) apresenta seus três braços superiores em chamas. A figura desta Croix et Flambeau, traz à mente a do candelabro de três braços e a do cujo esoterismo fora caprichosamente elaborado pelos vedantinos e recolhido logo pelos filósofos de Alexandria, platônicos e neoplatônicos.
Pareceria que com o uso, as palavras se desgastam, e como qualquer traste velho se empregam para qualquer mister. Palavras de significado preciso, como Verbo, Logos, Palavra, etc., terminaram por perdê-lo ao ser postas ao serviço, e como representação das racionalizações dos teólogos. O mesmo ocorreu com expressões tais como “Um”, que desde tempos imemoriais tem sido empregado como título do Principio Ultimo (Ekam em sânscrito, Ejad em hebraico, Eka em grego, foram sempre títulos da incognoscível fonte da qual brota o Espírito, a Consciência, a Palavra). É claro que também desde tempos imemoriais vem sendo aplicada às racionalizações teológicas. Aqui a usamos na primeira acepção, que é a original.
A tripla chama, (os três pontos ou “dedos” do Principio Criador, as três taos sobre o candelabro, trazem à mente o grafismo da Schin hebraica. Ao mesmo tempo, os quatro braços da Cruz, lembram o Tetragrama Y H V H (representativo do “nome próprio” (Schem-ha-Mephorasch) do Verbo ou Criador. E a união do Schin e o YHVH é Ye-Ho- SCH -VaH (Jehoshua) o nombre do “Salvador” no qual o Tetragrama ocupa o lugar da Cruz e a tripla chama, ou da Rosa que daquela brota. Daí que os R+C se autodenominem JESUÍTAS, sem que a denominação tenha nenhuma relação com a Companhia de Ignácio de Loyola. Assim os chama o FAMA, que define a condição como o “andar, viver, ser e morrer em Jesus”, isto é: em Ye-HO- Sch -Va-H, na permanente recordação da índole sagrada do Verbo – de ser “encarnação do Verbo” – e no exercício de seu sacro oficio e poder. Em outra de suas formas, a Cruz – o Tau – aparece sustentando uma serpente crucificada. A figura alude a um episodio do Êxodo, quando, para conjurar uma peste, Moisés fez fundir este símbolo em bronze. O grafismo do Tau do alfabeto hebraico, toma a forma daquela Serpente. Hoje em dia o nome deste (Satã) está muito desvalorizado. E não é por nada, porque ela – a Palavra “queda” – não é o Mestre e Salvador, senão o Tentador, o Mau, o Intrigante e assassino daquele. Porém continua sendo verdade que haverá de ser finalmente “levantada para a saúde do Povo”.
O Tau é a última letra do alfabeto hebraico – cuja primeira letra é Aleph. O mesmo acontece com a voz EMÉTH : Verdade. O alfabeto é o corpo, a substância da Palavra cuja essência é Verdade. Como fundamento deste “corpo” do Verbo (como seu sustentáculo), o Tau significa Pensamento e Meditação: estar “em união”, “em com-união”, em “ágape”. É nesse estado que sobre a Cruz (a União) floresce a Ro-Xa, a rubra cor da Aurora.
A cruz cristã – a de braços desiguais – é o desenvolvimento plano do cubo, a “Pedra Cúbica Perfeita” que é o fundamento do edifício, do Templo. É a Pedra sobre a qual se pode edificar a única Igreja verdadeira possível, a para sempre oculta porém eternamente viva, a genuína Casa do Espírito que os R&C reconhecem como seu inacessível Santuário .
Porque a Pedra-Cruz é o Altar do Sacrifício, e é no sacro oficio de servir ao progresso da Humanidade que eles se unem e re-unem. No contexto do simbolismo judaico/cristão, a Cruz da salvação não pode ser separada da Árvore da queda – que é sua contraparte, e que no mito já aparecia como uma árvore dupla: da Ciência (do Bem e do Mal, do Binário), e da Vida. É pois, a Cruz, o Otz-ha-Jaim, a Árvore da Vida cujos DEZ pontos surgem da superposição ou conjunção de dois Quinários: o Homem e a Cruz. Superposição na qual o coração do homem coincide com o daquela, para cujo efeito há una perfuração das mãos (ação do dar e/ou bendizer) os pés (ato de propagar); há, também um tormento intelectual e emocional, representado no símbolo pela coroa e o golpe de lança do centurião. Na identidade entre a Cruz e a Árvore da Vida que, ligado por suas raízes, se levantava em meio do Horto do Éden, e em todo o simbolismo que lhes está relacionado, tem o leitor abundante material de meditação e um magnífico “ponto de apoio” para sua alavanca de Arquimedes.
A ROSA. Com o que foi dito até aqui, o leitor no terá dificuldades para identificar a Cruz com a Rosa, porque sendo aquela o cruzamento de duas linhas, sua essência é a intersecção: o ponto do qual procede o Fogo… que é o que a Ro-ja Rosa representa. Já tratamos o esoterismo da palavra Rosa, e não precisamos nos aprofundar sobre de seu emprego como símbolo nos costumes de diferentes povos. Somente lembraremos que um de os títulos da “Mãe de Deus” (de Theos: o Verbo) é “Rosa Mística”; e que foi dado a seu Filho o de “Rosa de Sharon”. Também que ISHTAR (Astarté), iSHá (mulher, e iSiS) são sinônimos de rosa.
A COR VERMELHA. Corresponde ao iniciado R&C. É a representação, em termos de Luz, da Ro-Xa, Ro-ja ou Rosa. E desde que esta está associada com a Cruz – que é a do sacro oficio, a do Serviço – alude ao “sangue” do Um, que ao derramar-se dá vida a seus filhos.
O PELICANO. Alguns simbolistas interpretam o Pelicano como um símbolo de Cristo ou do Sol; porém se observarmos bem as gravuras antigas ver-se-á que esta ave está colocada como SUSTENTÁCULO da Cruz.
Assim considerado, este emblema se assemelha com a Hansa védica, ou a Mãe Oca dos nórdicos; à Pomba (Espírito Santo) dos cristãos e gnósticos… Símbolos que normalmente se interpreta como referentes ao alento de vida (no qual vai incorporado o Verbo), porém que devemos assimilar com o RUAJ ELOHIM – o “sopro letrado” que a filosofia mosaica distingue com justeza do NEPHESH, o “alento de vida”.
Além disso, não deixa de ser um erro a assimilação da Nansa com o alento, toda vez que os Upanishads a identificam NÃO com Peana, senão com o AUM – o Verbo Criador – Conservador – Destruidor.
Notem que assim colocado – como “sustentáculo da Cruz”, o Pelicano assimila traço vertical do Tau – e em conseqüência, ao ponto dentro do círculo, que como dizíamos, às vezes foi representado por uma pomba.
A “PALAVRA”. Dizíamos antes, que o Grande Segredo dos R+C é “a Palavra” (o Logos, a Palavra Religante, o Verbo Total) perdida para o mundo, porém que os R&C a recuperaram feito carne e sangue em si mesmos para dá-la (para dar-se) em alimento.
A emblemática da R+C é a mesma do cristianismo: o Logos é o Criador e o Mediador – a comunicação – entre as mentes, corações, e estratos do Ser. É simplesmente natural que, como representação simbólica desse Logos, dessa Palavra Sagrada que tem o poder de estender uma ponte entre o que está separado, tenha tomado as iniciais da inscrição que na lenda evangélica fora posta sobre a Cruz de Cristo. Não a inscrição, mas as iniciais (I.N.R.I.) – o que tacitamente convida a uma leitura diferente. Assim, o I.N.R.I. foi interpretado de mil maneiras e posto ao serviço das doutrinas mais díspares: desde a vitalista e fálica (Igne Natura Renovatur Integra) que deve ser “explicada” cada vez que se propõe, dizendo que o Igne a que se refere a frase é o da Inteligência, até o mais filosófico: Igne Nitran Roxis Invenitur, passando pelas conhecidas In Nobis Rosa Invenitur, ou In Nobis Regnat Ille. Não vamos nos ocupar destas interpretações, já que o leitor encontrará abundante material em outras fontes. Preferimos chamar a atenção a que, enquanto todos citam frases latinas, ninguém parece ter avisado que a referida inscrição estava gravada também em hebraico e em grego.
Em hebraico, as quatro iniciais são lod, Nun, Resch, e de novo lod, que correspondem às dos quatro elementos: lan (água), Nur (fogo), Ruaj (ar), e labejad (terra).
Daí então: a Palavra “preenche” quando possui as propriedades destes, tem que ser LIQUIDA para que possa adaptar-se sem dificuldades aos recipiendarios. Cada pessoa deve “ouví-la em seu próprio idioma” como no episodio do Pentecostes (Atos II). Assim mesmo e como instrumento libertador e fraternizante deve preencher sem deixar interstícios. E tem que ser clara e cristalina, fresca e doce, se é que há de saciar a sede daquele que a ouve. Mas também tem que ser ÍGNEA, inflamada, apta para transmitir seu fogo. Porque se não, não é brasa que acende brasas, Como poderá ser comparada a um “pó de projeção” ou “fermento” e “semente de ouro”?
É claro que a Palavra tem que possuir mesmo assim O SOPRO, tem que “ter anjo”. Não pode ser uma palavra vã ou que contenha uma mensagem aprendida como papagaio, e sim tem que ser palavra inspirada e, também, inspiradora. Por último, tem que ser SÓLIDA e estar firmemente fixada, “feito carne”, em quem a articula. Do contrario, talvez possa chegar, mover ou inspirar; poderá arrastar – e tudo isso conseguem os charlatões. Porém não libertará, não religará. Pelo contrario: radicalizará, dividirá, separará a os homens e os atirará ao exterior. A “palavra de Verdade” deve primeiro ter sido Real-izada em quem a emite. Do contrario, mesmo que diga verdade, é mentira e ignorância: e às vezes… também ambição. No é o suficiente “dizer” a verdade: tem que se SER AUTÊNTICO para poder dizê-la. Trabalhará corretamente o aspirante ou neófito que se exercite em dotar sua palavra das qualidades assinaladas; e será verdadeiramente sábio quem comece por fazê-lo desde a última citação. E quanto às iniciais gregas: iota, nu, rho, e novamente iota, podem ser as de: Idee Nekrophancia, Rektes latrikon: É esta aparência de morte, ativa medicina, o que alude ao estado extático.
O PÃO E O VINHO.
Estes símbolos estão intimamente relacionados com o anterior, porque “não só de pão vive o homem, senão de toda PALAVRA que sai da boca de Elohim”, que é verdadeiro alimento e água de vida.
O pão é emblema de imortalidade. Alguns o relacionam erroneamente com os Mistérios de Ceres e o “grão de trigo” – que deve morrer para multiplicar-se na espiga. Porém aqui não há transformação, e sim renascimento e multiplicação. Como dissemos em outro lugar, o grão de trigo sofre as provas dos elementos. É depositado na Terra, onde morre ao ser ”mortificado” pela Água. Seu Fogo o levanta da Morte e o eleva ao Ar – onde ao contato com o calor do Sol, o antigo grão se faz espiga. Porém não há transformação.
No caso do “pão” o processo é diferente. É moído e convertido em pó (Terra). É amassado com água e fermentado (ar). E é posto no forno (Fogo) – o que o transforma em ALIMENTO. Então entra numa ordem de vida superior, fazendo-se carne vivente. Igual processo segue a Uva – que tem de ser moída e seu suco tem que fermentar antes de que possa servir para a exaltação de quem o beba.
Assim com o Iniciado, cujo pensamento e coração se faz alimento e inspiração para os que estão presentes no círculo para o qual trabalha; e nessa transubstanciação do dar-se, transcende o Esquecimento porque vive NÃO mais na Natureza, e sim em suas Obras. Fazer de si mesmo alimento. Eis a receita. Não foi por acaso que o berço daquele Jesus foi Bet-le-hem, nome que significa “casa do Pão”. Os símbolos R&C são inumeráveis; e mesmo que quiséssemos, não conseguiríamos esgotar a lista. Talvez seja melhor estabelecer suas linhas gerais. Poderíamos dizer que os emblemas e representações da Irmandade são:
1) LIBERAÇÃO (da Luz): Cruz e Rosa.
2) ALIMENTO: Vinho e pão. Sangue.
3) SACRIFÍCIO: Pedra cúbica, Cruz, Sangue, Pão e Vinho, Pelicano.
4) INICIAÇÃO: Pelicano, Cálice.
5) COM-UNIÃO: Cálice, “Unión jack”.
6) RESSURREIÇÃO: Tumba aberta e ressuscitado.
7) FLORESCIMENTO: Rosa, Lírio, Outras -Flores (acanto).
8) VIDA: Árvore, Ramos, Arbustos.
9) AUXILIO.
O leitor não encontrará maior dificuldade em encontrá-los.