As Religiões na Evolução Humana
Tiago, que era irmão do Mestre Jesus, ao escrever aos cristãos de seu tempo, expressou o seu sentimento sobre o conceito religioso da seguinte forma: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. Essa expressão do Apóstolo mostra claramente toda a essência da religião, pois em nada adiantaria alguém dizer que tem fé, sem que manifeste isso pelas próprias ações. É preciso, antes de tudo, que alguém que professe uma fé, prove que essa fé é viva e verdadeira. Ele põe acima de tudo a necessidade de não somente crer como também agir. Ao falar de órfãos e viúvas, Tiago se mostra sensível às necessidades básicas do ser humano, chamando à atenção daqueles que desejam seguir o caminho da justiça, da fraternidade e do amor. Noutro ponto de sua famosa Epístola, Tiago chama a si mesmo de “mestre” e assim, ensina belas lições a todos os seguidores de Jesus, o Cristo.
Antes de entrarmos nos detalhes de que tratará o presente capítulo, é bom que tenhamos a definição, ao menos de maneira simplificada, do que significa “Religião” e “Deus”, em suas múltiplas fórmulas de entendimento humano. Regra geral, “Religião é a forma de adoração que se usa para chegar a Deus.” Religião significa crença na existência de forças sobrenaturais e Divinas. Deus é o “Grande Princípio”, a essência primeira da vida, o Princípio da Criação, o Verbo Eterno, o Infinito, o Todo, o Cosmos, o Absoluto, o Grande Arquiteto do Universo. Na verdade, são muitos os adjetivos para qualificar o Deus do nosso coração. No entanto, a expressão “o Princípio único e vital da vida” pode perfeitamente classificar esse Ser Inexplicável, que a Humanidade conhece e chama de Deus.
Algumas escolas de mistérios, utilizam em seu linguajar diário a máxima “Grande Arquiteto do Universo”, o GADU, com que o sábio Pitágoras muito bem definia o Deus do seu coração. Realmente, Deus é o Grande Arquiteto do Universo e, Pitágoras tinha razão ao afirmar desta maneira. Deus, construiu cada centímetro quadrado deste plano com a maestria que lhe é peculiar. Ele deu a cada ser uma missão, a cada coração um
pulsar, e assim, não poupou esforços ou sacrifícios, não deixou escapar nenhum detalhe na grande Obra que construiu. A ciência busca, pelas leis e teorias, estabelecer a existência deste Princípio; os pensadores debruçam-se em estudos e observações e buscam em experiências capazes de transcender a matéria, encontrar parte dessa matéria.
Por outro lado, as religiões, cada qual adotando um princípio, cada uma delas hasteando como verdade única seus escritos milenares, pregam um Deus dentro de sua própria concepção. Pregam uma latria ao Eterno, como sendo uma fonte única de se chegar a Ele. Mas á única verdade que conhecemos é aquela que vem do fundo do nosso ser, um conhecimento de Deus, que está impregnado no interior do homem. Deus lembra religião e religião lembra Deus. É por esta razão que “se Deus não existisse o homem o inventaria.”
O Mestre Jesus, no que diz respeito ao conceito religioso, disse certa vez: “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, eu estarei no meio delas.” Estas palavras impõem uma fé religiosa, sem intransigir. Por isto, comungar uma crença é bom demais para questionarmos qual é a falsa e a verdadeira. O termo “igreja”nos leva direto à comunidade, isso é o que importa, a união dos seres em torno de uma causa justa e humanitária. Para a comunidade, o importante é viver bem, dentro das leis estabelecidas e da sensação íntima de que sua fé é verdadeira e imortal. A isso, chamamos de Dharma. E é esse o grande prinípio para o místico, que sobremodo é um ser religioso. O místico está inserido, de forma bem clara no contexto das religiões.
As Verdades Eternas
Toda religião fundamenta-se num conjunto de Verdades, que seus Avatares ou fundadores chama de Reveladas por Deus. Por exemplo, Moisés criou o Judaísmo, sendo portanto, o seu Avatar.
Recebeu ele as revelações de Deus, que constituíam a base fundamental para a fé do povo hebreu. Desta forma, todas as verdades reveladas estão amparadas na ideia de um Deus como principio e de um corpo dual composto de matéria e alma.
Por sua vez, o Islamismo recebeu de Maomé as ditas Revelações e conseguiu esse Profeta ou Avatar, impor aos árabes a lei divina sem alterá-la na raiz, mas adaptando-a às necessidades sociais de seu povo. Alguns desses Avatares, ao trazer a mensagem revelada aos seus seguidores, enfrentaram problemas diversos e até mesmo revoltas, guerrilhas, desentendimentos e contendas.
O Cristianismo, assim como as demais religiões, nasceu em uma época profana, repleta de lutas e muita ganância. Como religião, o Cristianismo passou muito tempo marginalizado e conduziu muitos adoradores à morte. A história registra episódios tristes no período do obscurantismo, quando, em nome de Deus, muitas tragédias ocorreram, onde vidas eram ceifadas, na forca e na fogueira. No entanto, a força de seu Avatar venceu todos os obstáculos, e é hoje o Cristianismo uma das religiões mais expressivas do mundo.
Outro Avatar de valor, Budha, com a sua iluminação, deu o Budismo ao mundo. A luta para se chegar ao Nirvana, a luta que cada um deve ter para atingir a perfeição e o estado de graça. Esta é a essência do pensamento de outro Avatar, Krishina, cujo caminho não está acima ou abaixo de nós, mas dentro de nós mesmos.
A Ciência da Religião
Pela evolução, o homem tem buscado um desenvolvimento em muitas áreas do conhecimento. Conhecemos as ciências de forma generalizadas, mas nos campos específicos, elas são tratadas por seus mestres como convém. Assim é que se desenvolve, na vida moderna, as ciências: a ciência da educação, a ciência jurídica, a ciência médica, e assim por diante. Não obstante esse conglomerado de ciências humanas, não há, em nossa opinião, a “Ciência da Religião”.
O que existe, na verdade, são os dogmas, que representam, o conjunto de crenças, de “verdades” rudimentares ou elaboradas. Também se evidencia nesse contexto, as regras de conduta, que é a própria moral religiosa, e ainda os sistemas de ritos e cerimônias, que muito bem caracterizam os cultos praticados pelos povos.
Se Não há uma ciência da religião, muitos ramos da ciência não podem ignorá-la, como a História, a Psicologia, a Antropologia e sobretudo a Filosofia.
Nosso desejo aqui é tratar a religião de uma forma abrangente, sem que a vinculemos a determinada confissão, não importando a sua origem, natureza e extensão, nem o específico conteúdo dogmático de cada uma delas, quer se trate de religião natural ou revelada, por meio de hierofanias, que vão de Cristo “Deus encarnado”, até pedra ou árvore que, mesmo nas chamadas religiões primitivas, não são cultuadas senão enquanto símbolos ou expressões de algo sagrado.
Cada grupo religioso, seja no Cristianismo ou mesmo no contexto das grandes religiões orientais, existe a fragmentação, onde, em nome de Deus, são criados os diversos seguimentos, sempre com base em algum texto sagrado, com interpretação variada. Por discordância do fundamento original, alguns se rebelam, e desta maneira, dão início a uma nova organização religiosa.
Particularmente, no Brasil, surgem a cada dia, novos conceitos de fé, em que os chamados “Missionários” levam a Palavra aos seus fiéis. Nas grandes cidades, e mesmo em pequenas comunidades, é comum nos depararmos com sugestivos títulos de novas denominações religiosas, que engrossam as fileiras do movimento exotérico. “Igreja Pentecostal Deus é Poderoso”, “Igreja Jesus Voltará”, “Comunidade Sara Nossa Terra”, “Renascer”, “Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo”, “Adventista da Reforma”, “Batista do Sétimo Dia”, “Igreja Católica Brasileira”, “Movimento Católico Carismático”, “Só o Senhor é Deus”, “Igreja Pentecostal Jerusalém Avivamento”, “Jesus é o Salvador” “Congregação Cristã de Curitiba”, “Tabernáculo da Fé”, “Deus é Amor”, e tantos outros que aparecem aqui, ali e acolá.
Tudo isso é importante para unir as pessoas e as comunidades em torno de um ideal, e também corrobora esse movimento com o lado sociológico da questão. A prática religiosa influi na formação do caráter e ajuda a autoestima das pessoas, melhorando até mesmo a sua comunicação e a convivência social.
Nunca se pode condenar uma denominação por pequena que seja, nem que tenha sido iniciada há pouco tempo. Ainda que seu idealizador tenha desejos expúrios na propagação dessa mensagem, contudo o rebanho deve ser preservado, pois a sua fé pode perfeitamente ser autêntica e estar nos moldes de tantos outros precursores.
Conheço um homem, que na ânsia de se tornar ministro evangélico e líder, fundou a sua própria congregação, numa pequena cidade do interior. Tempos depois, ele transmigra para outra denominação, enquanto aquela por ele fundada, expande-se, e numa metrópole, conquista espaços consideráveis nos meios populares. O fundador parou no tempo, mas a instituição Igreja evoluiu de maneira gigantesca.
Pelo Mundo Afora
No mundo inteiro acontecem coisas espantosas, como dissemos, em todos os grandes grupos, religiosos ou místicos, que podem nos deixar estupefatos. Os desdobramentos ocorrem diuturnamente, como aliás sempre ocorreram no passado e que a história registra com todos os detalhes. As guerras religiosas sempre existiram, e muitas religiões surgiram em conflitos armados, quando, em nome de Deus, milhares de vidas foram ceifadas.
Não é de se estranhar, que também a fé católica, que possui a sua tradição, passou por crises constantes, porque sobretudo, desejava o poder e sempre quis permanecer à sombra desse poder. O mundo ocidental sofreu influência direta do Catolicismo Romano, mas como parte integrante ativa do Cristianismo, precisou buscar algumas transformações e mudanças para sobreviver. Enfrentou lutas internas, cisões e divergências. A propria Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero, mexeu na estrutura da Igreja de Roma, fazendo com que, alguns papas, por meio de encíclicas, chamasse o rebanho a uma reflexão sobre o assunto.
No contexto, vejamos um pequeno relato, dentro de
“O Catolicismo no Mundo”, apontando alguns aspectos
importantes na história desse segmento cristão.
O Catolicismo no mundo
A palavra “católico” significa universal. O termo foi usado pela primeira vez aproximadamente no ano 170 d.C. por Inácio, em sua Epístola a Smirna. Antes, era Igreja Apostólica. Atualmente o catolicismo compreende dois grandes grupos: romano e ortodoxo. Existem grupos menores, como no Brasil, a Igreja Católica Brasileira. A igreja ortodoxa tem predominância nos países eslavos, Grécia e Turquia, com exceção da Polônia. O Romanismo predomina na América Latina e também na Europa ( Portugal, Espanha, França, Itália, Polônia e Eire), e em alguns países da África, Ásia e Oceania.
Apesar da alegação da Igreja Romana de sua fundação no ano 33 d.C e de ter sido Pedro o primeiro papa, a história eclesiástica registra que Gregório I (509-604), foi o verdadeiro primeiro papa. Nos primeiros 500 anos da Igreja, portanto, não houve papa, como conhecermos hoje. No ano de 741 foi instituída a infalibilidade do papa, tendo essa doutrina se transformado em dogma em 1870.. O termo “ papa” vem de um decreto de Gregório VII, de 1073, que quer dizer “pai”. Durante a sua trajetória, a Igreja Católica Romana teve 261 papas, que são também conhecidos como Sumo Pontífices.
A primeira cisão da igreja aconteceu em 869, passando a parte oriental a chamar-se Igreja Ortodoxa Grega, e a ocidental, Igreja Católica Romana. A segunda grande cisão ocorreu no ano de 1521, promovida por Martinho Lutero, ficando conhecida como Reforma Protestante.
Os fatos principais que marcaram a história
do catolicismo, através dos anos:
1. Em 197,o bispo da Igreja de Roma passou a pregar contra a divindade de Cristo;
2. No ano 312, o Imperador Constantino oficializou a igreja, decretando o cristianismo como religião do estado;
3. No ano 400, foi introduzida a oração pelos mortos, e o sinal da cruz, logo após o purgatório;
4. Em 431, surgiu o culto a Maria, por influência dos sacerdotes das deusas romanas;
5. No ano 593, começa a ensinar o dogma do purgatório, que tinha objetivo financeiro;
6. No ano 600, o Papa Gregório I adota o ofício da missa, assim como o Latim como língua oficial;
7. Em 609 foi instituído o papado, com poder central, mantendo sob suas rédeas toda a hierarquia romana;
8. No ano 758 é introduzida a prática da confissão de pecados ao padre por influência dos orientais;
9. Em 819, é anunciada pela primeira vez a assunção de Maria, admitindo-se que Maria subiu ao céu em forma corpórea a exemplo de Jesus Cristo;
10. No ano 880, decreta-se a canonização dos santos, estabelecendo-se um processo de beatificação, mediante provas, como milagres, curas e boas obras, que a pessoa tenha praticado;
11. Em 998, fica estabelecido o Dia de Finados, para reverenciar os mortos com missas e rezas, tendo sido criada a quaresma no mesmo ano;
12. No ano 1000, foi estabelecido o cânon da missa:
13. Em 1074, Gregório VII cria o celibato, proibindo o casamento para os papas. No ano seguinte, os padres casados se divorciaram;
14. No ano 1095, adota-se a prática das indulgências plenárias;
15. No ano 1115, a confissão auricular transforma-se em artigo de fé;
16. No ano 1125, os cônegos de Lion cria a idéia da Imaculada Conceição de Maria;
17. No ano 1160, são criados os sete sacramentos da Igreja, como dogma e regra de fé;
18. Em 1186, o Concílio de Verona cria a Santa Inquisição. São Domingos foi o líder principal dessa doutrina, considerada na época um absurdo;
19. No ano 1190, a indulgência foi regulamentada pela Igreja;
20. No ano de 1215, surge o dogma da transubstanciação, e acontece o Concílio de Latrão, que transforma a confissão auricular em doutrina. Esse concílio foi realizado em Roma;
21. No ano de 1226, começa a prática da elevação da hóstia durante a liturgia, mas 26 anos antes disso já havia a adoração da hóstia;
22. No ano 1229, acontece o Concílio de Tolosa, tendo sido proibida a leitura da Bíblia pelos leigos;
23. Em 1303, a Igreja Católica Apostólica Romana proclama-se a única e verdadeira, e só nela o homem encontra a salvação;
24. No ano 1317, o Papa João XXII ordena a oração da Ave-Maria;
25. No ano 1414, define-se a hóstia como o único elemento da missa, sendo o pão extirpado e o cálice restrito ao sacerdote;
26. No ano 1562, a missa é declarada propiciatória, com poderes para perdoar pecados, confirmando o culto aos santos;
27. No ano 1563, no Concílio de Trento, sendo confirmada a doutrina do purgatório;
28. Em 1573, a Bíblia tem acrescidos os livros apócrifos, aqueles considerados sem inspiração;
29. No ano 1654, o dogma da conceição de Maria é confirmado;
30. Em 1864, a autoridade do papa é declarada sobre toda a Igreja, em concílio realizado no Vaticano;
31. No ano 1870, é declarada a infalibilidade do Papa:
32. Em 1950, a assunção de Maria é transformada em artigo de fé.
(Texto extraído com adaptação, IBADEP, Guaíra, Estado do Paraná)
A Religião e o Misticismo
Misticismo é um termo meio vago que cobre amplos pontos de vista e abordagens à prática religiosa. Em muitas situações, Misticismo não pode ser dissociado com muita clareza da prática correta da religião. Por outro lado, várias manifestações do misticismo são radicais, extremas e bastante distanciadas da ortodoxia verdadeira. Uma definição genérica de misticismo seria: “qualquer postura, coisa ou situação que nos leva ao contato com a realidade existente além dos cinco sentidos”. De uma forma ou de outra, o Misticismo sempre esteve presente na Igreja. Na igreja primitiva, manifestou-se com intensidade nos Montanistas, e nos nossos dias encontra grande expressão em muitas igrejas evangélicas, independentemente das barreiras denominacionais.
Na Idade Média, situado no outro extremo do Escolasticismo, no meio dessa Igreja conturbada, temos o desenvolvimento do Misticismo no seio do isolamento monástico. Como se procurassem um afastamento da abordagem racionalista, muitos passaram a escrever obras puramente devocionais. Refletindo um desejo de se elevar acima das agruras deste mundo, almejavam uma aproximação imediata com a pessoa de Deus. Objetivavam atingir a certeza da salvação e chegar à verdade não pela dedução lógica, mas pela experiência. Muitos podem ter sido crentes sinceros, enfatizando o amor e a aproximação com Deus.
Os místicos nunca foram considerados hereges, e a igreja medieval, na realidade os encorajou, como um contra-ponto ao Escolasticismo. Em função do seu caráter subjetivo, o Misticismo enfatizou consideravelmente, além de uma postura pessoal de devoção, a questão dos sonhos, visões e outras formas de revelação que seriam utilizadas por Deus em paralelo às Escrituras. Estiveram também presentes, posteriormente, no meio da Reforma, quando Lutero confrontou uma comunidade que ficou conhecida como “Os Profetas de Zwickau” indicando que o Espírito Santo falava pela objetividade das Escrituras.
Tomás à Kempis (1380-1471) – Nascido na Alemanha e criado na Holanda, este místico foi um dos grandes exemplos desse período, lido e prezado tanto por católicos como por protestantes. Tomás ocupou toda a sua vida em três atividades: copiar a Bíblia (lembrem-se que, naquela época, não havia imprensa); meditação devocional; e escrever vários livros. Ficou, entretanto, conhecido por apenas um desses, intitulado “A Imitação de Cristo”. Escrito originalmente em Latim, em quatro volumes, foi traduzido depois para várias línguas. Existem mais de 2000 edições conhecidas deste livro que até o teólogo Charles Hodge classificou como “a pérola do Misticismo Germânico-Holandês”. Um outro teólogo protestante escreveu: “… o que torna este livro aceitável a todos os Cristãos, é a ênfase suprema colocada sobre Cristo e a possibilidade de comunhão imediata com ele e com Deus”.