Morre-se
depressa demais
depressa demais
Consumimos
as alegrias e os desgostos à velocidade da luz.
as alegrias e os desgostos à velocidade da luz.
Depois perguntamo-nos de onde
vem a ansiedade e a depressão.
vem a ansiedade e a depressão.
Vivemos tão
depressa que damos por nós a entrar num centro comercial e a não saber em que
estação do ano estamos. Com os saldos de Verão a começarem antes do Verão vir
sequer marcado no calendário, ficamos com a ideia de que já não vale a pena
comprar um fato-de-banho porque o Outono está mesmo a chegar. Confusos,
rebuscamos na memória os dias longos de praia, os jantares na varanda, as
férias, e concluímos que o nosso cérebro se desgastou de tanto uso, porque as
recordações que temos parecem antigas e, no entanto, a avaliar pela coleção
Outono/Inverno que enche as páginas das revistas, só pode ter sido ontem.
depressa que damos por nós a entrar num centro comercial e a não saber em que
estação do ano estamos. Com os saldos de Verão a começarem antes do Verão vir
sequer marcado no calendário, ficamos com a ideia de que já não vale a pena
comprar um fato-de-banho porque o Outono está mesmo a chegar. Confusos,
rebuscamos na memória os dias longos de praia, os jantares na varanda, as
férias, e concluímos que o nosso cérebro se desgastou de tanto uso, porque as
recordações que temos parecem antigas e, no entanto, a avaliar pela coleção
Outono/Inverno que enche as páginas das revistas, só pode ter sido ontem.
Não
entendíamos quando, em pequenos, nos diziam que o Natal não demorava nada e os
dias rolavam penosamente, ou que tarda nada fazíamos anos, e o “tarda nada” era
mesmo tarde e parecia-nos nunca mais chegar. Mas, agora, percebemos que o tempo
voa, tudo passa a correr, o que é tanto mais idiota quanto era exatamente
agora que devia andar a passinhos de bebé (lembram-se do jogo?), porque a recta
final está progressivamente mais próxima.
entendíamos quando, em pequenos, nos diziam que o Natal não demorava nada e os
dias rolavam penosamente, ou que tarda nada fazíamos anos, e o “tarda nada” era
mesmo tarde e parecia-nos nunca mais chegar. Mas, agora, percebemos que o tempo
voa, tudo passa a correr, o que é tanto mais idiota quanto era exatamente
agora que devia andar a passinhos de bebé (lembram-se do jogo?), porque a recta
final está progressivamente mais próxima.
Olhamos para
o calendário e não percebemos o que fizemos aos dias que voaram, mas se
olharmos mais de perto as nossas agendas, percebemos que estiveram cheios de
acontecimentos, que se atropelaram uns aos outros, sem nos deixar um segundo
para respirar.
o calendário e não percebemos o que fizemos aos dias que voaram, mas se
olharmos mais de perto as nossas agendas, percebemos que estiveram cheios de
acontecimentos, que se atropelaram uns aos outros, sem nos deixar um segundo
para respirar.
Andamos
cansados, muito cansados, sobretudos aqueles que têm filhos pequenos, e dentre
esses, à cabeça de todos, lá estão as mulheres que acumulam profissão e a
casa/família. Nem a invenção das férias pagas, que nem meio século tem, nos
veio descansar, porque rapidamente enchemos também aqueles dias com mil
“compromissos” obrigatórios.
cansados, muito cansados, sobretudos aqueles que têm filhos pequenos, e dentre
esses, à cabeça de todos, lá estão as mulheres que acumulam profissão e a
casa/família. Nem a invenção das férias pagas, que nem meio século tem, nos
veio descansar, porque rapidamente enchemos também aqueles dias com mil
“compromissos” obrigatórios.
O mal não é
que as 24 quatro horas do dia tenham encolhido, mas simplesmente que a nossa
omnipotência nos deixe com a ilusão de que conseguimos encher o espaço de um
dia com tantas e tantas coisas, como se conseguíssemos estar em muitos lados em
simultâneo.
que as 24 quatro horas do dia tenham encolhido, mas simplesmente que a nossa
omnipotência nos deixe com a ilusão de que conseguimos encher o espaço de um
dia com tantas e tantas coisas, como se conseguíssemos estar em muitos lados em
simultâneo.
Contudo, o
que mais me aflige é o facto de vivermos os acontecimentos profundamente
marcantes num toca- -e-foge que não nos deixa refletir sobre eles, senti-los
em profundidade, gozá–los ou lamentá-los, resolvê-los e superá-los, em lugar
de os varrer para debaixo do tapete. E obrigamos os outros também a varrer, na
nossa intolerância para com a dor que não passa rapidamente, para com o
desgosto que se mantém, para com aqueles que se continuam a queixar da mesma
coisa, num tempo em que mesmo a maior tragédia é ultrapassada por aquela que
vem a seguir.
que mais me aflige é o facto de vivermos os acontecimentos profundamente
marcantes num toca- -e-foge que não nos deixa refletir sobre eles, senti-los
em profundidade, gozá–los ou lamentá-los, resolvê-los e superá-los, em lugar
de os varrer para debaixo do tapete. E obrigamos os outros também a varrer, na
nossa intolerância para com a dor que não passa rapidamente, para com o
desgosto que se mantém, para com aqueles que se continuam a queixar da mesma
coisa, num tempo em que mesmo a maior tragédia é ultrapassada por aquela que
vem a seguir.
Depois
queixamo-nos da tristeza que não sabemos de onde vem, da ansiedade que nos toma
inesperadamente e, claro, da depressão que se instala, jurando nós que não
temos motivos nenhuns para a sentir.
queixamo-nos da tristeza que não sabemos de onde vem, da ansiedade que nos toma
inesperadamente e, claro, da depressão que se instala, jurando nós que não
temos motivos nenhuns para a sentir.
Basta olhar
para a pressa com que gerimos a morte. Homens e mulheres extraordinários
parecem desaparecer da face da terra, e da memória, num abrir e fechar de
olhos. E por muito que os tenhamos admirado, por muito que nos façam falta,
continuamos em frente, não por mal, mas porque somos empurrados pela voracidade
dos dias, pelos compromissos e obrigações, porque não podemos deixar cair tudo
o que de nós depende. Sem lhes erguermos a estátua que merecem, sem que o seu
nome fique sequer gravado numa lápide, que fique para lá da sua vida, da nossa
vida, da vida dos nossos filhos, para que um dia, alguém a possa ler e
perguntar: “Quem foi este?” Decididamente, não gosto de cremações. Decididamente,
quero viver mais devagar. (Isabel Stiwell)
para a pressa com que gerimos a morte. Homens e mulheres extraordinários
parecem desaparecer da face da terra, e da memória, num abrir e fechar de
olhos. E por muito que os tenhamos admirado, por muito que nos façam falta,
continuamos em frente, não por mal, mas porque somos empurrados pela voracidade
dos dias, pelos compromissos e obrigações, porque não podemos deixar cair tudo
o que de nós depende. Sem lhes erguermos a estátua que merecem, sem que o seu
nome fique sequer gravado numa lápide, que fique para lá da sua vida, da nossa
vida, da vida dos nossos filhos, para que um dia, alguém a possa ler e
perguntar: “Quem foi este?” Decididamente, não gosto de cremações. Decididamente,
quero viver mais devagar. (Isabel Stiwell)