MUNDIVIDÊNCIA
Qualquer
dicionário nos dirá, entre outras coisas, que mundividência é uma ideia
filosófica sobre a organização do cosmos. De certa forma, uma dada ideologia. É
por aí que vamos, nesta ocasião.
dicionário nos dirá, entre outras coisas, que mundividência é uma ideia
filosófica sobre a organização do cosmos. De certa forma, uma dada ideologia. É
por aí que vamos, nesta ocasião.
Desenvolvamos
pois esta ideia geral, o que implica apelarmos para alguma condescendência dos
nossos leitores, pois bem sabemos que muitos e plurais são os entendimentos
acerca deste assunto, onde, como é óbvio, não há detentores da verdade última
nem privilegiados com o conhecimento total dos mistérios do mundo e da vida.
pois esta ideia geral, o que implica apelarmos para alguma condescendência dos
nossos leitores, pois bem sabemos que muitos e plurais são os entendimentos
acerca deste assunto, onde, como é óbvio, não há detentores da verdade última
nem privilegiados com o conhecimento total dos mistérios do mundo e da vida.
É costume
dizer-se que quando nos confrontamos com heterodoxias, ideias incomuns e coisas
que nos parecem paradoxais se impõe que apelemos a uma grande abertura de
espírito. Mente aberta, se diz. Mas há uma piada inglesa que contrapõe que é
muito bom ter a mente aberta, desde que os miolos não nos caiam ao chão. Neste
caso, prevenidos são os que se caracterizam por ter a mente fechada.
dizer-se que quando nos confrontamos com heterodoxias, ideias incomuns e coisas
que nos parecem paradoxais se impõe que apelemos a uma grande abertura de
espírito. Mente aberta, se diz. Mas há uma piada inglesa que contrapõe que é
muito bom ter a mente aberta, desde que os miolos não nos caiam ao chão. Neste
caso, prevenidos são os que se caracterizam por ter a mente fechada.
Lidos os
esquemas com algum cuidado, talvez possamos chegar à conclusão que o desejo e a
sua realização podem encerrar conflitos e contradições e não nos sobre espaço
para dizer da superioridade inquestionável de termos uma mente aberta, a qual
nos pode – vejam bem! – levar à inconstância e à volubilidade.
esquemas com algum cuidado, talvez possamos chegar à conclusão que o desejo e a
sua realização podem encerrar conflitos e contradições e não nos sobre espaço
para dizer da superioridade inquestionável de termos uma mente aberta, a qual
nos pode – vejam bem! – levar à inconstância e à volubilidade.
Posto isto,
esperando dos que queiram prestar-nos atenção com a tal mente aberta, aquela
que tem cuidado com os miolos, isto é, que não abdica do seu espírito crítico,
propomos o seguinte entendimento cosmológico, digamos assim:
esperando dos que queiram prestar-nos atenção com a tal mente aberta, aquela
que tem cuidado com os miolos, isto é, que não abdica do seu espírito crítico,
propomos o seguinte entendimento cosmológico, digamos assim:
1. – Todo o
universo, a matéria, a energia e os fenómenos da vida são uma criação mental da
inteligência pura a que muitos chamam Deus. Isto é, o universo é mental, como
diz o Kybalion.
universo, a matéria, a energia e os fenómenos da vida são uma criação mental da
inteligência pura a que muitos chamam Deus. Isto é, o universo é mental, como
diz o Kybalion.
2. – A
inteligência pura, inteligência cósmica ou consciência divina produz um campo
de forças, um campo energético que tudo infunde, que tudo alimenta e, neste
aspecto, tudo é energia.
inteligência pura, inteligência cósmica ou consciência divina produz um campo
de forças, um campo energético que tudo infunde, que tudo alimenta e, neste
aspecto, tudo é energia.
3. – A Mente
Global é o campo energético onde a Consciência Global se manifesta; esta será,
digamos assim, a escrita do Pensador e aquela o papel onde esta escrita se faz
e o pensamento se expande.
Global é o campo energético onde a Consciência Global se manifesta; esta será,
digamos assim, a escrita do Pensador e aquela o papel onde esta escrita se faz
e o pensamento se expande.
4. – À
consciência em acto chamam os místicos e os espiritualistas em geral VONTADE
DIVINA (ou Poder Divino); este poder – porque inteligente – constitui toda a
coesão ou unidade cósmica a que os religiosos chamam amor
consciência em acto chamam os místicos e os espiritualistas em geral VONTADE
DIVINA (ou Poder Divino); este poder – porque inteligente – constitui toda a
coesão ou unidade cósmica a que os religiosos chamam amor
5. – Matéria
e espírito são aspectos de uma só coisa eterna.
e espírito são aspectos de uma só coisa eterna.
6. – A
consistência da manifestação faz-se pela forma, que é sempre mutável, efémera e
provisória.
consistência da manifestação faz-se pela forma, que é sempre mutável, efémera e
provisória.
7. – Todo o
ser vivo se insere num processo de consciência que se inicia na
auto-consciência.
ser vivo se insere num processo de consciência que se inicia na
auto-consciência.
Em harmonia
com estes sete pressupostos, defina-se a entidade homem como uma manifestação
dual que implica duas naturezas, uma mortal e outra imortal. Mortal, a que se
manifesta pela forma, que como dissemos atrás é mutável e efémera; imortal, a
que procura vencer o mundo, a carne e o diabo, para utilizarmos a linguagem
pessoana. Diabo aqui não tem qualquer conotação com as crendices populares, mas
sim com a auto-ilusão.
com estes sete pressupostos, defina-se a entidade homem como uma manifestação
dual que implica duas naturezas, uma mortal e outra imortal. Mortal, a que se
manifesta pela forma, que como dissemos atrás é mutável e efémera; imortal, a
que procura vencer o mundo, a carne e o diabo, para utilizarmos a linguagem
pessoana. Diabo aqui não tem qualquer conotação com as crendices populares, mas
sim com a auto-ilusão.
Esquematicamente,
seria assim a entidade pessoa humana:
seria assim a entidade pessoa humana:
Vários
autores – e também a linguagem popularizada – chamam ao corpo psíquico corpo
astral. Há também quem lhe chame corpo emocional e até, como foi o caso de
Rudolf Steiner, alma.
autores – e também a linguagem popularizada – chamam ao corpo psíquico corpo
astral. Há também quem lhe chame corpo emocional e até, como foi o caso de
Rudolf Steiner, alma.
Apresentada
noutros tempos, quando a psicologia estava reduzida ao estudo dos fenómenos
comportamentais, esta nossa metafísica seria tomada como coisa de macaquinhos
no sótão. Para o bem e para o mal, as mentes são hoje muito mais abertas do que
no passado e não se vêem pelo chão, felizmente, quaisquer miolos
espalhados.
noutros tempos, quando a psicologia estava reduzida ao estudo dos fenómenos
comportamentais, esta nossa metafísica seria tomada como coisa de macaquinhos
no sótão. Para o bem e para o mal, as mentes são hoje muito mais abertas do que
no passado e não se vêem pelo chão, felizmente, quaisquer miolos
espalhados.
Não podemos,
todavia, deixar de salientar que existem muitos pontos de contacto entre o
nosso particular entendimento do cosmos e do fenómeno homem, isto é, o
microcosmos. Há muitas propostas de forte pendor metafísico de algumas escolas
de psicologia, nomeadamente a psicologia das profundidades, a psicologia
humanista e a psicologia transpessoal.
todavia, deixar de salientar que existem muitos pontos de contacto entre o
nosso particular entendimento do cosmos e do fenómeno homem, isto é, o
microcosmos. Há muitas propostas de forte pendor metafísico de algumas escolas
de psicologia, nomeadamente a psicologia das profundidades, a psicologia
humanista e a psicologia transpessoal.
Note-se que
o conceito de auto-realização, embora não totalmente coincidente com o nosso,
ganhou popularidade e atenção académica com os estudos de Abraham Maslow e Carl
Rogers.
o conceito de auto-realização, embora não totalmente coincidente com o nosso,
ganhou popularidade e atenção académica com os estudos de Abraham Maslow e Carl
Rogers.
Maslow foi o
fundador da psicologia humanista e desenvolveu o interessante esquema conhecido
como PIRÂMIDE DE AUTO-REALIZAÇÃO (ou Hierarquia das Necessidades.
fundador da psicologia humanista e desenvolveu o interessante esquema conhecido
como PIRÂMIDE DE AUTO-REALIZAÇÃO (ou Hierarquia das Necessidades.
Do ponto de
vista mais estritamente esotérico, é Stanislav Grof que merece maior destaque
pelas suas pesquisas sobre estados alterados de consciência, através
(nomeadamente) de experiências com o ácido lisérgico.
vista mais estritamente esotérico, é Stanislav Grof que merece maior destaque
pelas suas pesquisas sobre estados alterados de consciência, através
(nomeadamente) de experiências com o ácido lisérgico.
Grof, o
grande impulsionador da psicologia transpessoal, chama aos estados alterados de
consciência ESTADOS HOLOTRÓPICOS [Holos (todo) + trepein (em direcção
a)] que definiu mais ou menos assim: no quotidiano, no nosso estado de
consciência comum, nós identificamos apenas uma pequena parte daquilo que verdadeiramente
somos; nos estados holotrópicos, podemos transcender os estreitos limites do
corpo e do ego, reclamando a nossa completa identidade.
grande impulsionador da psicologia transpessoal, chama aos estados alterados de
consciência ESTADOS HOLOTRÓPICOS [Holos (todo) + trepein (em direcção
a)] que definiu mais ou menos assim: no quotidiano, no nosso estado de
consciência comum, nós identificamos apenas uma pequena parte daquilo que verdadeiramente
somos; nos estados holotrópicos, podemos transcender os estreitos limites do
corpo e do ego, reclamando a nossa completa identidade.
Ora, reclamar
a nossa completa identidade, em termos tradicionais, assenta na grande e antiga
consigna de Delfos: «Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses
e o universo».
a nossa completa identidade, em termos tradicionais, assenta na grande e antiga
consigna de Delfos: «Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses
e o universo».
Mas dito
assim
assim
, parece coisa fácil. Tão fácil que há imensa gente que julga conhecer-se,
quando o que realmente e apenas conhece é a imagem que inventou para si mesma.
Que bem fica aqui recordar o adágio de que somos três: aquilo que pensamos ser,
o que os outros pensam que nós somos e aquilo que verdadeiramente somos.
quando o que realmente e apenas conhece é a imagem que inventou para si mesma.
Que bem fica aqui recordar o adágio de que somos três: aquilo que pensamos ser,
o que os outros pensam que nós somos e aquilo que verdadeiramente somos.
O princípio
da auto-realização assenta no autoconhecimento e leva à identificação da
personalidade com o seu dever-ser. Um dos fenómenos consequentes é a chamada
iluminação, que é um estado holotrópico superior.
da auto-realização assenta no autoconhecimento e leva à identificação da
personalidade com o seu dever-ser. Um dos fenómenos consequentes é a chamada
iluminação, que é um estado holotrópico superior.
Podíamos
dizer que a auto-realização é um sinónimo de iniciação, mas não há sinónimos
perfeitos. A iniciação tem uma exigência distintiva fundamental: faz-se por
graus e só pode ser assegurada pelas Ordens Iniciáticas.
dizer que a auto-realização é um sinónimo de iniciação, mas não há sinónimos
perfeitos. A iniciação tem uma exigência distintiva fundamental: faz-se por
graus e só pode ser assegurada pelas Ordens Iniciáticas.
Mas o que
acontece é que o conceito de iniciação se desvalorizou muito, mormente foi
corrompido pelos andaços do tempo: há o pronto a iniciar tal como há o pronto a
comer, o pronto-a-vestir e até o pronto a pensar. Facilitações mercantis de
centro comercial, é o que é. Até às praxes académicas se usa chamar iniciação.
acontece é que o conceito de iniciação se desvalorizou muito, mormente foi
corrompido pelos andaços do tempo: há o pronto a iniciar tal como há o pronto a
comer, o pronto-a-vestir e até o pronto a pensar. Facilitações mercantis de
centro comercial, é o que é. Até às praxes académicas se usa chamar iniciação.
Dizia o
filósofo Huberto Rohden:
filósofo Huberto Rohden:
«Hoje em
dia, muitas pessoas falam em iniciação. Todos querem ser iniciados. Mas
entendem por iniciação uma AULO-INICIAÇÃO, uma iniciação por outra pessoa, por
um mestre, um guru. […] Esta aulo-iniciação é uma utopia, uma ilusão, uma
fraude espiritual. […] O que o mestre, o guru pode fazer é mostrar o caminho…»
dia, muitas pessoas falam em iniciação. Todos querem ser iniciados. Mas
entendem por iniciação uma AULO-INICIAÇÃO, uma iniciação por outra pessoa, por
um mestre, um guru. […] Esta aulo-iniciação é uma utopia, uma ilusão, uma
fraude espiritual. […] O que o mestre, o guru pode fazer é mostrar o caminho…»
A nossa
modernidade enche-nos a mente de ruido, impede-nos o silêncio. Ora, o silêncio
é um dos pilares fundamentais do autoconhecimento, tão importante quanto a
meditação. Mas até esta ferramenta da mente tem sido aviltada pelo modismo,
pelo marketing, pelo facilitismo.
modernidade enche-nos a mente de ruido, impede-nos o silêncio. Ora, o silêncio
é um dos pilares fundamentais do autoconhecimento, tão importante quanto a
meditação. Mas até esta ferramenta da mente tem sido aviltada pelo modismo,
pelo marketing, pelo facilitismo.
Não será
despropositado trazer aqui os seguintes dizeres de Jiddu Krishnamurti:
despropositado trazer aqui os seguintes dizeres de Jiddu Krishnamurti:
«Numa
tentativa de se evadir dos seus conflitos, o homem tem inventado diversas
formas de meditação, porém, todas elas se baseiam no desejo, na vontade ou na
ânsia de obter algo, o que implica conflito e o emprego de esforço a fim de
alcançar determinados resultados. Esta luta consciente e deliberada
circunscreve-se sempre nos limites de uma mente condicionada, que não possui
liberdade. Todo o esforço empregue na meditação constitui a sua própria negação.
A meditação consiste no término da acção do pensamento; só então pode chegar a
existir toda uma dimensão intemporal»
tentativa de se evadir dos seus conflitos, o homem tem inventado diversas
formas de meditação, porém, todas elas se baseiam no desejo, na vontade ou na
ânsia de obter algo, o que implica conflito e o emprego de esforço a fim de
alcançar determinados resultados. Esta luta consciente e deliberada
circunscreve-se sempre nos limites de uma mente condicionada, que não possui
liberdade. Todo o esforço empregue na meditação constitui a sua própria negação.
A meditação consiste no término da acção do pensamento; só então pode chegar a
existir toda uma dimensão intemporal»